quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

de-fen-der

Para quem conhece, se interessa e se preocupa em saber/perceber algumas particularidades do jogo, entende e compreende que actualmente, nos desportos colectivos de rendimento superior – nomeadamente o Futebol e o Futsal – um dos aspectos que mais preponderância tem na organização de jogo é o momento de organização defensiva e os princípios comportamentais subjacentes a essa organização. A frase do “começar de trás para a frente” é conhecida mas de difícil operacionalização.

Sendo o momento de organização defensiva parte integrante de uma específica e personalizada forma de jogar – Modelo de Jogo, entendo a organização defensiva colectiva como uma forma específica de se defender, de acordo com princípios específicos, também eles subjacentes à forma de jogar na sua generalidade – grandes princípios. Assim, o MJDA (Modelo de Jogo Defensivo Adoptado) deve caracterizar-se por comportamentos defensivos colectivos, zonais, individuais ou mistos – dependendo da concepção do Treinador.

Tradicionalmente, a defesa homem a homem é vista como uma forma de organização defensiva onde cada atleta tem a missão de marcar um único adversário, previamente atribuído pelo treinador ou designado pelas contingências do jogo, acompanhando-o sempre, com ou sem bola. Este homem-a-homem, onde os jogadores perseguem os adversários, é raro nos jogos de rendimento superior, mas é verdade que ainda existem equipas que defendem assim. Esta é uma forma de defender individual e portanto pouco colectiva, onde o equilíbrio defensivo é quase nulo e dificilmente se está a defender pensando em atacar. É um MJDA no qual os jogadores não têm noção espacial da sua referência posicional na estrutura colectiva da equipa. A referência defensiva nesta forma de defender são os adversários directos, traduzindo-se num “jogo de pares”, onde o centro do jogo (bola) e o espaço do jogo deixa de ter importância/sentido. Sendo um adversário a grande referência defensiva de posicionamento e marcação, como fazer “campo pequeno” quando os adversários estão, à partida, em “campo grande”? Como conseguir superioridade numérica na zona da bola de modo a proporcionar coberturas defensivas e o necessário equilíbrio posicional e numérico? Defender individual não é pensar de forma colectiva o jogo e o jogar da equipa.

Nas equipas chamadas de TOP – rendimento superior (no Futebol e no Futsal), o MJDA referência é a “zona-mista”. Porque individual não é colectivo, a zona torna-se por obrigação na execução dos seus princípios, um método defensivo em que o colectivo tem que superar o individual e por isso, de assimilação menos fácil, de operacionalização mais difícil e a necessidade de mais e melhor rendimento na unidade de treino. Neste MJDA, a organização tem que ser colectiva, a preocupação pela bola e pelos espaços (linhas de passe) rigorosa e a concentração mental e posicional articulada em função da bola e dos espaços. A defesa à zona implica que as grandes referências defensivas de posicionamento sejam a bola e, em função desta, os companheiros. A grande preocupação é fechar como equipa os espaços de jogo mais valiosos, em função da posição da bola, tendo que sistematicamente fazer “campo pequeno” no centro do jogo para aí conseguir superioridade numérica, coberturas defensivas e equilíbrio colectivo posicional. Se esta intenção de defender zonal existir, mas, simultaneamente, existir a necessidade de acompanhar o movimento de um adversário de forma mais próxima e directa, poderemos falar numa “zona mista” que na minha opinião, no futebol/futsal actual é o método defensivo mais utilizado. Dois “pormaiores” para terminar: na defesa zonal, não há uma zona predefinida para cada atleta ou atribuída pelo treinador. A zona pela qual um jogador é responsável não é sempre a mesma e vai variando em função da posição da bola e qualquer marcação próxima a um adversário sem bola é sempre circunstancial e consequência de uma ocupação espacial inteligente. Na minha concepção, o meu MJDA é a “zona-mista”, uma forma de organização defensiva que me garante uma correcta ocupação do espaço defensivo, com coberturas defensivas, onde o pensamento defensivo é colectivo e as preocupações são bola – espaço – linhas de passe – adversários. Se a minha equipa estiver organizada segundo estas premissas, vamos ser consistentes defensivamente e vai ser mais fácil recuperar a posse da bola em condições favoráveis de atacar.


REFERÊNCIAS:

  1. Defender é um processo que requer assimilação de princípios comportamentais e colectivos e por isso deve ser operacionalizado por etapas. Por isso, primeiro de-fen-der e só depois defender. Conhecendo as partes, o todo será forte. Muito forte!
  2. A organização defensiva é cada vez mais importante numa equipa de rendimento superior e é aqui que as situações de finalização têm início. Não se descuidem e treinem sempre a pensar colectivo a forma de jogar (quer a defender, quer a atacar).
  3. Uma equipa bem organizada defensivamente, sofre menos/poucos golos e portanto perde menos vezes, arriscando-se de sobremaneira a ganhar mais vezes.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 24 de Fevereiro de 2009)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

No feminino nos (des)entendemos

A 16 de Janeiro de 2007, aqui neste mesmo local, escrevi o seguinte a propósito do desporto no Feminino e do Futsal em particular: “E porque o que me preocupa somos nós e não os outros, acabemos de uma vez por todas com a ilusão que ainda existe nalguns clubes e/ou pessoas do aclamado Campeonato Nacional de Futsal Feminino. Meus senhores e minhas senhoras, isso é uma mera ilusão. Quando a Federação Portuguesa de Futebol se propõe organizar um Inter-Associações de Futsal Feminino sem que a Federação tenha, no seu Departamento de Futebol e Formação, qualquer Selecção de Futsal Feminino, então só nos podemos questionar o porquê deste Torneio, quais os seus objectivos e o porquê de tanta gente (iludida) lutar pelo Campeonato Nacional de Futsal Feminino. Para mim a resposta é clara: este Torneio serve de observação para a Selecção Nacional de Futebol de 11 Feminino. Inadmissível pensarão vocês, absurdo e despropositado digo eu. Não me parece que a Federação esteja interessada em terminar com a Selecção de Futebol de 11 e por isso, parece-me a mim que não há a mínima intenção de criar o Campeonato Nacional de Futsal Feminino. E se existem ou não incompatibilidades, só a Federação pode responder, pois para mim não há! Nem para mim, nem para quem ainda acredita que isso seja possível. Assim, da Federação à nossa Associação, eis o reflexo de tal questão. Olhemos para os nossos quadros competitivos no Futsal Feminino e retiremos deles uma conclusão”. Feliz ou infelizmente, mas temos que aceitar pois é o que temos, a nossa Federação Portuguesa de Futebol não demonstra interesse pela prática e desenvolvimento do Futsal no geral e no Feminino em particular. Existe em Portugal uma excesiva mediatização do Futebol quando comparado com outras modalidades desportivas.

Segundo dados fornecidos pela FPF referentes à época desportiva 05/06, no Futebol de 11 Feminino havia inscritas 1.293 atletas federadas, no Futebol de 7 Feminino havia 456 atletas federadas e no Futsal Feminino havia somente 3.649 atletas federadas. Estes são evidentemente números bem demonstrativos da proporção dos praticantes no Feminino, e se nem mesmo estes números são suficientes para a Federação pensar na criação do Campeonato Nacional de Futsal Feminino e na Selecção Nacional de Futsal Feminino, o que será preciso mais? Escreve a Federação Portuguesa de Futebol que, e passo a citar: “Os Torneios Nacionais Inter-Associações integram-se no processo metódico, regular e sistemático de desenvolvimento qualitativo e quantitativo do futebol português”. Ainda não entendi o que há para desenvolver no Futsal Feminino sem Selecções de Futsal Feminino e sem Campeonato Nacional. É que as desproporcionais e nada competitivas competições distritais e a participação na Taça Nacional é muito pouco. Agora, como se a Federação não tivesse dado já sinais do seu desinteresse, “conseguiu” levar consigo as Associações de Futebol. Ou seja, os órgãos que regem as competições distritais e que podem e devem levar junto da Federação os interesses dos clubes, começam agora a proceder em sentido contrário. Vamos (Associações) levar junto dos clubes, os interessese da Federação. Refiro-me neste caso em maior detalhe ao Comunicado Oficial Nº62 da nossa Associação de Futebol, que para conhecimento de todos, entende que se deve equacionar a participação no Torneio Inter-Associações de Futebol 7 Feminino Sub/17. Para que tal seja possível, e porque apenas existe uma equipa de Futebol Feminino a competir no nosso Distrito (inserida em competições masculinas) e não existem quadros competitivos no Futebol Feminino, vem a Associação pedir ao Futsal que referencie as atletas para a Selecção de Futebol Feminino, alegando alguns pontos. Ponto 1: a inexistência de Selecção Nacional de Futsal Feminino (façam chegar junto da Federação as intenções dos clubes para a criação da mesma porque o nosso distrito tem honra, prestígio e resultados, incluindo atletas vice-campeãs nacionais); Ponto 4: é usual em todos os distritos as atletas de futsal participarem nas selecções distritais de futebol (lamento concordar mas lamento não se procurar nos outros distritos o que de bom se faz em prol do futsal feminino, e há por aí distritos, associações e competições bem interessantes); Ponto 6: é de vital importância dar às nossas atletas do distrito mais oportunidades de competir a outros níveis e noutras realidades (não podia concordar mais! Então, porque não impulsionar o desenvolvimento do Futsal Feminino?).

Vejam as diferenças no número de atletas federadas e acredito cada vez mais que se deve insistir junto da Federação para a criação do Campeonato Nacional de Futsal Feminino e da Selecção Nacional. Sabemos que não depende apenas da vontade e intenção da nossa Associação, mas ao proporcionar e divulgar este comunicado, reflecte um claro sentido desportivo em detrimento de outro. Não posso deixar de ser crítico para com este comunicado e a sua intenção. Não quero contudo deixar de esclarecer que não é culpa da nossa Associação que o Futsal Feminino seja tão desequilibrado a nível distrital, mas é culpa da nossa Associação promover de forma tão declarada o desinteresse no Futsal Feminino.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 17 de Fevereiro de 2009)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Formação ou ser campeão?

No meio futebolístico é comum ouvirmos frases do tipo: “queremos formar mais que um atleta, um cidadão” ou ainda: “futebol é uma escola para a vida”. Contudo, sabemos que não é linear tornar essas frases realidade e fica a dúvida: Será que isso realmente acontece na prática ou não passa de discurso?

Nos dias que correm, a busca incessante por bens materiais e pelo lucro regem a essência da humanidade capitalista (seja de carácter deportivo ou social). Dada esta presente e premente realidade, será que é possível dar uma verdadeira educação/formação aos nossos jovens atletas?

Sob o meu ponto de vista, depende de nós educadores/técnicos desportivos, na escola e/ou no clube, concretizarmos a formação desse jovem cidadão-atleta que tanto ouvimos falar. O principal problema que se constata reside no facto dos treinadores (de clube) deixarem de se preocupar com a formação integral desses jovens em detrimento dos seus próprios interesses, para conseguirem uma ascensão meteórica com as respectivas vantagens que isso lhes possa trazer. Isto na prática traduz-se em títulos, maior preocupação pelo resultado final e menos preocupação/atenção à vertante humana, social e de formação íntegra dos jovens atletas.

Se essa lógica (de vencer primeiro e formar depois) prevalecer, vamos continuar a ver futebol de “chutão”, sem organização nenhuma, sem conhecimento do jogo e dos seus princípios, sem saberem que “o jogo é futebol” e não tem nada semelhante com “jogar à bola”. Neste futebol, jovens fisicamente muito fortes são os grandes “trunfos” dos treinadores. Esta realidade é tão triste e verídica que muitas vezes durante um jogo, há equipas (de futebol de 7 – escolas/infantis – ou de 11 – iniciados) que não conseguem cinco passes consecutivos sem perder a posse da bola, mas no entanto, com o tradicional “chutão”, muitas vezes vencem.

Formar sem esquecer o lado competitivo estará sempre inerente ao desenrolar do trabalho, mas em idades mais baixas é fundamental perceber que mais importante que vencer é dotar os jovens de vivências e hábitos motores para que conheçam o jogo, o interpretem cada vez melhor e o identifiquem com naturalidade. Assim, aprender a jogar em várias posições, conhecer as suas funções, vivenciar variações tácticas/estruturais, ter uma boa relação com a bola e cultivar/fomentar espírito colectivo, de humilde e respeito, terá, tanto ou mais valor que uma vitória. Contudo, não concordo que se ensine a perder. A derrota é um dos 3 resultados possíveis e nas idades mais baixas deve desdramatizar-se esse resultado, bem como racionalizar as vitórias. Aceito sim, que se ensine que vencer/empatar/perder faz parte do jogo.

A própria denominação diz: futebol de formação. Assim, é nossa responsabilidade formar os jovens em atletas e formar os jovens no contexto actual da sociedadedar. A estes deve ser permitido errar sem medo de represálias pois são jovens em formação e os erros são comuns em qualquer processo de aprendizagem.

Nos jovens atletas em formação, a vitória deve ser “um meio” e não “um fim”. Devemos ser competitivos e exigentes mas saber que são ainda muito novos. Empenho e dedicação é fácil pedir e as características volitivas devem ser permanentes. Dessa forma, teremos um jovem atleta-cidadão mais e melhor preparado para a vida, mesmo que não se torne um futebolista profissional de sucesso. Se isso ocorrer, o papel da formação está cumprido. E bem cumprido.


REFERÊNCIAS:

  1. No Campeonato Nacional de Futsal/FutSagres, 17ª Jornada, 8ª vitória, 8º jogo consecutivo sem perder, 29 pontos conquistados com mérito, sofrimento, dedicação, organização e qualidade. No Sábado, em Tires, o respeito pelo adversário e a nossa responsabilidade/competência estiveram nos níveis desejáveis e conquistámos mais 3 pontos, a caminho do objectivo – play-off. Ainda não está! Está quase! “Só” falta o quase e 9 jogos.
  2. No clássico do Dragão, uma decisão do Árbitro influenciou o resultado do jogo, a actual classificação e a classificação final destas duas equipas em caso de igualdade pontual. Apesar de ser muito, o erro faz parte do jogo e o que fica do jogo foi um FC Porto com demasiada pressa em chegar a situações de finalização e sem o conseguir, e um SL Benfica tranquilo, personalizado e muito bem organizado defensivamente. Em Lisboa, o SC Braga foi uma equipa grande e o Sporting CP foi incapaz para superar a organização adversária. Dois jogos de qualidade superior, com formas de jogar bem definidas e comportamentos individuais e colectivos de top.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 10 de Fevereiro de 2009)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A (enorme) importância de comunicar (bem)

Dando continuidade ao assunto abordado a passada semana neste mesmo espaço, insisto esta semana novamente na (enorme) importância de comunicar (bem) e tentarei tornar esta minha preocupação mais perceptível a quem lê utilizando exemplos práticos. Na passada semana escrevi, às páginas tantas, o seguinte: “não é resultado de nenhum estudo científico, mas certamente concordam comigo que no topo desta pirâmide está a relação Televisão/Futebol”. Curiosamente, e nada premeditado, esta semana, no jornal desportivo “Record”, na sua edição de Quinta-feira 29 de Janeiro, vinha o seguinte resultado referente a um estudo científico: “O futebol continua a ser rei e a reflectir o seu mediatismo nos noticiários dos jornais portugueses em 2008. As palavras Futebol, Benfica e FC Porto foram as que apareceram mais vezes em notícias publicadas na imprensa nacional no ano passado, segundo uma análise a que a Agência Lusa teve acesso. No estudo (entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2008) foi seleccionado um grupo de palavras-chave relevantes nos acontecimentos do último ano e, pesquisado em meios de âmbito geral/nacional, económico, desportivo e de entretenimento, concluiu-se que o Futebol e os principais clubes lideram os conteúdos nacionais”.

Com base nisto, gostaria de dar alguns exemplos do nosso Futebol. Naturalmente, os mais visados são os 3 grandes – FC Porto, SL Benfica e Sporting CP – e os seus intervenientes. Em condições normais, Jesualdo Ferreira, Paulo Bento e Quique Flores passam, por semana, 3 vezes em conversa com jornalistas (antevisão do jogo, flash-interviú e conferência de imprensa pós-jogo). Se houver competições europeias/Taça de Portugal/Taça da Liga, o número passa para 6. Não me parece um número pequeno, sobretudo devido à dimensão/proporção que 10 minutos perante os jornalistas vão ter nos dias seguintes. Tenho por hábito, sempre que me é possível, ouvir atentamente as conferências de imprensa de Treinadores e Atletas, e quando não posso ver e ouvir, procuro ler. Naturalmente a maior quantidade de “comunicação”vem dos 3 grandes, também porque são eles os mais solicitados e sujeitos a infindáveis questões. Quique Flores é dos 3, o mais “politica e desportivamente correcto”, com um discurso fluente onde se depreende segurança nas palavras e ideias que utiliza, detendo a capacidade de “usar” a imprensa pois sabe que algumas palavras e frases farão manchetes e outras, passarão entre linhas. É sucinto nas suas declarações, objectivo e coerente. Não se perde em justificações desnecessárias e assume os seus actos com responsabilidade e fimeza. Quique demonstra nas suas palavras confiança e segurança nos objectivos. Professor Jesualdo Ferreira. Orador nato. Comunica em função dos momentos, e quase sempre bem. Nas antevisões alonga-se, utiliza frases longas e vocabulário específico mas quando quer manchetes sabe como fazê-lo. A inteligência confunde-se com alguma sobranceria, tal a elegância do seu discurso. Elegante nas palavras e inteligente nas ideias. Aponto-lhe, no passado recente, um erro muito grave de incoerência na sua forma de estar: após o Porto – Trofense, no flash-interviú, comentou a arbitragem do Benfica-Braga de forma totalmente despropositada, pois estava ali para comentar o seu jogo. Na conferência de imprensa tentou emendar o erro e disse que apesar de tudo, o Porto tinha empatado por culpa própria. Não lhe assenta bem. E também lhe assentou mal quando o passado fim-de-semana, após o Braga-Porto, no “mesmo” flash-interviú, não respondeu ao jornalista sobre lances duvidosos do “seu” jogo. Pouco depois, na conferência de imprensa, disse «Não sou avaliador, não dou classificações nem sou da comissão de arbitragem. De onde estava, não dava para ver bem. Agora, vou para casa ver os lances, perguntem-me na próxima conferência de imprensa! A Jesualdo, estes dois momentos tão próximos ficam-lhe muito mal, mesmo que passados uns dias, afirme admitir “algumas irregularidades”. Por fim, deixei Paulo Bento. Sou, actualmente, incapaz de ouvir Paulo Bento. Ao contrário, gosto de ler o que diz Paulo Bento. As constantes paragens do seu discurso, as permanentes repetições de palavras e as constantes e repetitivas pausas longas com o seu “aaaaaannnnnnn” fazem do discurso de Paulo Bento um suplício para quem o ouve, tornado-se pouco natural, fluente e espontâneo e demasiado mecanizado – “uma vitória justa, um resultado (in)justo” – quantas vezes já ouviram isto da boca de Paulo Bento? Muitas! Caricato é perceber que Paulo Bento tem consciência desse mediatismo, mesmo não revelando melhorias no seu discurso, senão vejamos uma declaração que ele teve a 2 de Janeiro de 2009, onde afirmou e passo a citar: Aquilo que dizemos numa conferência de imprensa muitas vezes é analisado por quem de direito e muitas vezes é analisado por quem não o deve fazer. Os treinadores hoje em dia são criticados e observados por inúmeras pessoas que não têm a mínima noção do que é o futebol e a organização de uma equipa. Um dos meios que serve para que isso aconteça é a Internet. Nós estamos expostos a isso”.

Então, pergunto eu: não deveria ser motivo de preparação aquilo que se diz e a forma como se diz? A resposta parece-me óbvia. Junto a estes detalhes um menos importante: este tipo de declarações e forma de comunicar com adeptos, sócios e simpatizantes é global e o acesso a elas é cada vez mais vasto. Assim, a preparação destes intervenientes deve ser constante e rigorosa, tendo sempre presente a ideia que falam para um vastíssimo auditório.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 3 de Fevereiro de 2009)