terça-feira, 16 de junho de 2009

certezas e incertezas

Certamente, muitos de nós gostaríamos de saber, antecipadamente, o desenrolar dos acontecimentos num determinado jogo, numa determinada competição, ficando calma e tranquilamente a assistir ao jogo sabendo de antemão as suas “peripécias” e o seu resultado final. Reconhecemos também que isso faria desaparecer a emotividade, a incerteza, a emoção e a paixão pelo jogo.
Todos os envolvidos no fenómeno desportivo (e não só) já ouviram falar, e falam, em “stress”. Ouvimos, conversamos e até dizemos que o temos ou que não o temos, mas será que sabemos o que é e acima de tudo, como lidar com ele? Ansiedade, pressão ou medo de falhar podem ser associados a stress mas, são termos demasiado usuais nalgumas equipas, nalguns grupos de trabalho, nalguns discursos. Concentremo-nos naquilo que queremos! Não falemos em pressão, não falemos em ansiedade, não falemos em stress. Antes reconheçamos que tudo isto existe, está presente e que (não) vai desaparecer com o apito do árbitro. Temos que aprender a lidar com estas sensações e perceber que não devem/podem ser condicionadoras do nosso rendimento.
Entendamos stress como “aquilo que sentimos e a forma como reagimos a uma situação ameaçadora e incerta” (Jorge Silvério). Torna-se importante pois, primeiro que tudo, reconhecer quando estamos numa situação de stress. No fenómeno desportivo, a maior parte das ameaças (situações de stress) são resultados dos nossos pensamentos e existem apenas na nossa imaginação ou mente, por isso é importante ter a mente treinada, e sobretudo, “criar” na nossa imaginação e no nosso pensamento situações positivas e desejadas, mas reais. Quando se pensa “o que acontece se perder o jogo?” pensemos antes como será a vitória e a reacção de tudo o que nos envolve (atletas, clube, família, comunicação social). Preparem-se para aquilo que querem e não para aquilo que não querem, mas, não fiquemos obcecados com a vitória e saibamos reconhecer e aceitar todo e qualquer resultado. O stress pode ser negativo e prejudicar/condicionar o rendimento do atleta/treinador, mas também pode ser positivo e conduzi-lo a um melhor rendimento.
Uma das principais características de um jogo de futsal e de qualquer jogo desportivo colectivo é a incerteza do acontecimento. Não interessa o adversário, o contexto ou factores extrínsecos, pois nunca saberemos de antemão qual vai ser o resultado final e também não saberemos qual vai ser o nosso rendimento durante o jogo. É esta incerteza comportamental que aumenta o stress. Não sabemos o que vai acontecer mas podemos imaginar e sobretudo, planear e treinar o lado estratégico do jogo tendo em conta o nosso modelo de jogo e os seus argumentos para, daquilo que conhecemos do adversário o possamos vencer. O que na realidade vai acontecer, só no momento ficaremos a saber. É impossível eliminar este stress mas é possível lidar com ele de modo que a sua influência negativa seja a menor possível e “transformá-lo” em manifestação positiva. Podemos (e isso treina-se) reduzir o nível de stress originado pelos pensamentos que invadem a nossa mente, bem como regular esse nível.
É importante que cada um (o ser individual) seja capaz de identificar a forma como se manifesta o stress antes e durante o jogo (idas frequentes à casa de banho; boca seca; mãos transpiradas; respiração forte; aumento da frequência cardíaca). Cada indivíduo tem o seu nível de stress e é fundamental que ele o reconheça para que o seu índice de rendimento seja óptimo. Stress demasiado baixo (relaxamento mental, emocional e comportamental) pode ser prejudicial, assim como stress demasiado alto (sintomas de cansaço, dores de cabeça, dores de estômago, dificuldade em permanecer no mesmo lugar) também o pode ser. Precisamos assim encontrar o nosso “nível de stress óptimo” para que o nosso rendimento seja de qualidade superior não de vez em quando mas sempre.

REFERÊNCIAS:
1. Na meia-final da taça nacional de seniores femininos em futsal, a AD Fundão não foi o que nos habituou e nos dois jogos realizados, não foi suficientemente forte para vencer e derrotar o FC Vermoim. Quarta-feira no Fundão, o “zero zero” demonstrou que a organização defensiva se impôs à organização ofensiva. Sábado em Vermoim, o 4-1 ilustra quem menos errou defensiva e ofensivamente e esclarece a maior eficácia na finalização. Temos a sensação que podia ser muito diferente, mas não fomos suficientemente fortes, mesmo sabendo o que fazer, como fazer e quando fazer. Eliminadas e derrotas mas nem vencidas nem convencidas, aquele jogo e os momentos nele vividos não nos matam e por isso vão fazer-nos mais fortes! Prometo!
2. Chateia, aborrece e entristece saber o que fazer, como fazer e quando fazer e não conseguirmos. Chateia, aborrece e entristece saber que o nosso modelo de jogo/forma de jogar tem argumentos mais que suficientes para ultrapassar e contornar as adversidades e dificuldades provocadas pela equipa adversária e mesmo assim, não sermos capazes de as operacionalizar. Alegra-me e enche-me de orgulho saber e ter a consciência que a equipa sénior feminina da AD Fundão, apesar de derrotada e eliminada na meia-final da taça nacional, nunca ignorou as suas convicções. E durante estes dias, meses e dois anos que comigo trabalhou, demonstrou um carácter impressionante, uma competência invejável, uma coragem e ambição enorme e uma vontade insaciável de evoluir, vencendo, alimentando o sonho de conquistar aquele símbolo que vale mais que mil palavras. Depois destes dois anos, o possível é mais possível! Parabéns e Obrigado! Muito Obrigado!

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 16 de Junho de 2009)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

o todo ou a soma das partes

É do senso comum e não transmito novidade nenhuma ao afirmar que o futsal/futebol é um jogo desportivo colectivo e como tal, o colectivo deve sempre sobrepor-se às individualidades (a equipa em detrimento do atleta). No Dicionário da Língua Portuguesa, equipa é “um grupo de pessoas encarregadas de algum trabalho ou serviço comum”. Entendamos então que uma equipa é, em primeiro lugar, um grupo de atletas. Para que um grupo de atletas se torne numa equipa há condições essenciais que têm que ser realidade. Para isso, é fundamental a definição de um objectivo comum, a dependência de uns em relação aos outros porque todos são importantes e todos precisam de todos e uma relação/ligação forte entre os atletas para que a acção de cada um possa influenciar positivamente a dos outros, em prol do colectivo.

Também não é novidade nenhuma (digo eu) que para o Treinador, mais difícil que planear, estruturar, sistematizar, construir exercícios, treinar, observar, analisar e jogar será mesmo o facto de gerir um grupo de atletas, todos diferentes e com características culturais e pessoais distintas de atleta para atleta. Mas o Treinador não tem apenas que gerir um grupo de atletas. Tem também de gerir a relação/ligação com o departamento médico, com a direcção, com os sócios, com a comunicação social e com tudo que está envolvido, que influencia ou pode influenciar no processo colectivo. E aqui o caminho é progressivo e construtivo porque todos os dias conhecemos um pouco mais dos nossos atletas, daqueles que connosco trabalham e daqueles que podem ter influência (directa ou indirecta) no resultado do processo de treino (em função dos objectivos definidos, sempre com o intuito de vencer). E chegado aqui temos duas hipóteses: tudo o que for positivo para o grupo devemos potenciar ainda mais; tudo o que possa ser menos positivo para o grupo devemos tentar “esconder” e não enfatizar, fazendo prevalecer o que de bom existe (devemos seleccionar as capacidades que nos interessam e não nos preocuparmos com as que não nos interessam). Estando todo o grupo de trabalho identificado com os objectivos do processo e mantendo a mesma linha de pensamento de um líder, o processo será mais simples e sobretudo, a compreensão destes princípios entre todos aumentará de sobremaneira o rendimento colectivo.

Uma boa equipa, aquela que ganha regularmente e não de vez em quando, é aquela em que o colectivo se sobrepõe sempre ao individual, em que cada atleta está identificado com as suas responsabilidades e cumpre-as dentro do colectivo com o objectivo de todos juntos serem melhores que o adversário. Numa equipa de rendimento superior, o todo é mais importante que a soma das partes, mas a soma das partes é fundamental para um todo forte porque afinal de contas, o todo é constituído pelas partes. Confuso? Não! A equipa é mais importante que os atletas mas não nos podemos esquecer que a equipa é constituída pelos atletas e por essa razão, equipas fortes e de rendimento superior têm atletas fortes e de rendimento superior. É importante que todos os atletas tenham consciência da sua influência individual no rendimento colectivo da equipa

E se é importante o treinador e a equipa estarem preparados para tudo (ou quase tudo) relativamente ao plano táctico-estratégico do próximo adversário, é fundamental também que o treinador identifique e se “prepare” para influências negativas e processos causadores de distúrbios, de forma a poder “eliminá-los” fortalecendo o processo construtivo da equipa. É importante o treinador estruturar e formar uma equipa, juntando diferentes atletas com o objectivo de formar um forte colectivo, uma forte equipa.

Se todos os atletas desempenharem as suas tarefas de acção individuais dentro do colectivo, em função do colectivo e para a obtenção dos objectivos, a equipa ganhará mais vezes e os atletas serão melhores.

Construir uma equipa é um processo evolutivo que nunca termina, sendo responsabilidade de todos melhorar e aperfeiçoar todos os dias em função dos objectivos comuns ao colectivo.

REFERÊNCIAS:

  1. As estrelas só brilham no céu, e mesmo no céu estão organizadas em grupos!
  2. AD Fundão – FC Vermoim, meia-final da Taça Nacional de Futsal Séniores Femininos – 1ª mão. Quarta-feira, 10 de Junho de 2009, 16h – Pavilhão Municipal do Fundão. Faltam duas…

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 9 de Junho de 2009)

terça-feira, 2 de junho de 2009

quando o possível se torna mais possível!

Começo pelo fim. Fenomenal! Jogar em inferioridade numérica os últimos minutos do jogo (GR+3x5), estando o resultado favorável 3-2, e não permitir uma situação de finalização/oportunidade de golo e conseguir, mesmo assim, manter a posse da bola com enorme qualidade e segurança, só se pode estar orgulhoso, feliz e satisfeito da competência evidenciada.

6ª jornada da 1ª fase da Taça Nacional de Séniores Femininos em Futsal. AD Fundão – Golpilheira. Só a vitória nos permitia alcançar o 1º lugar do grupo e o consequente acesso às meias-finais da competição, perfilando entre as 4 melhores equipas de futsal feminino de Portugal. Queria partilhar que esta equipa de futsal feminino, de enorme carácter, dedicação, responsabilidade e ambição tem revelado a cada dia/treino/jogo uma coragem e uma persistência impressionante! Quando se junta a isso muito trabalho, tudo o possível se torna mais possível!

Do jogo de Sábado queria apenas destacar o seguinte: a vencer por 3-1 e a cerca de 4 minutos para o fim, a AD Fundão fica a jogar em superioridade numérica (4x3) por expulsão de uma adversária. Um minuto depois, uma falta é-nos assinalada (a 6ª) e decidida uma expulsão. Do livre de 10 metros o 3-2, com 3 minutos e 15 segundos para jogar. Em inferioridade numérica até a 1 minuto e 15 segundos do final, e apenas com 3 atletas mais a GR em campo, a nossa adversária adiantou a GR e passámos a ter um jogo 5x3+GR. Serei honesto e sincero se vos disser que nunca treinei esta situação específica do jogo. Com apenas 3 atletas, conseguimos manter a posse da bola com enorme critério, segurança e qualidade. Quando chegou o tempo de igualar o número de atletas, a 1 minuto e 15 segundos do fim, a vitória estava mais perto e durante todo este tempo não permitimos nenhuma situação de finalização, jogando 5x4+GR, demonstrando uma serenidade, organização colectiva e uma mentalidade tão forte que eu estava mais seguro que nunca.

Esta demonstração de enorme capacidade e consistência nos últimos minutos só foi possível devido às noções colectivas (defensivas e ofensivas) que esta equipa possui. Dia 10 e dia 13 de Junho, vamos disputar as meias-finais com o FC Vermoim, da AF Braga. Porque estamos aqui e pela forma como chegámos aqui, vão ter que levar connosco! Tudo o possível se torna mais possível quando sabemos o que fazer, como fazer e quando fazer.

REFERÊNCIAS:

1. A final de Roma da Liga dos Campeões teve um vencedor esteticamente brilhante e supremo a nível colectivo. Qualquer equipa podia ter vencido tal a qualidade de ambas, mas a mim pareceu-me que o Manchester ficou refém da sua própria estratégia quando se “esqueceu” que pressionar alto para impedir a saída de bola em apoio do Barcelona iria abria “espaços” na zona central onde andavam “organizadamente perdidos” dois meninos de ouro: Iniesta e Xavi. E se nos lembrarmos que o primeiro golo do Barcelona nasceu dos pés de Iniesta após progressão com bola, percebemos que o Manchester, por “querer tapar a cabeça, destapou os pés”. E depois do Barcelona se encontrar a vencer, era fácil perceber como iria ser o jogo. Só de bola parada ou Cristiano Ronaldo podiam fazer alguma coisa para tanta qualidade colectiva, ofensiva e defensiva. O Senhor Johan Cruyff disse: "Este Barça, do qual me alegro, impôs um estilo de jogo, uma forma de jogar que provocou milhões de elogios em todos os cantos do mundo. E escreveu com letras grandes e de ouro, a mensagem mais divulgada de 2009: pode ganhar-se jogando bonito e dando espectáculo. Copiem esta proposta. Atrevem-se?”.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 2 de Junho de 2009)