domingo, 21 de fevereiro de 2010

Selecção Nacional – Clube Portugal. A Covilhã sim senhor, mas porquê?

Entre meados de Maio e o início de Junho de 2010, a Covilhã não vai passar despercebida a ninguém. A Selecção Nacional – Clube Portugal vai estagiar na “cidade neve”, na encosta da Serra da Estrela, cidade que fica a aproximadamente 700 metros de altura. Os nossos craques vão treinar na cidade e descansar no Hotel Turismo mas irão pernoitar no Hotel Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde, a cerca de 1600 metros de altitude. A preparação para o Campeonato do Mundo de Futebol de 2010 será feita aqui, em plena cidade, perto de todos mas longe de olhares ou curiosidades. Teremos entre nós a elite do desporto rei e é motivo de orgulho para todos sentir que aqueles pelos quais os nossos corações palpitam de emoção quando o hino se faz ouvir vão estar aqui entre nós. É de todo impossível a cidade e as suas pessoas ficarem indiferentes a esta envolvência que a presença da Selecção vai trazer. O mediatismo vai “entupir” a cidade e teremos entre nós a comunicação social de todo o mundo e em todos os cantos (e cantinhos) do mundo se falará na Covilhã. A cidade, acolhedora por natureza, vai abrir os braços à Selecção e aconchegar, na medida do possível, o trabalho de preparação para a mais importante competição de selecções – o campeonato do Mundo de futebol. O caminho entre Portugal e Joanesburgo passa por aqui – Covilhã.

Contudo, importa perceber qual a razão que levou à escolha da nossa cidade. É comum ouvir-se dizer que “é devido à altura”. Sim, mas como assim? O Dr. Henrique Jones, médico da Selecção considerou que a escolha de estágios em altitude tem por regra o princípio - "viver em altitude e treinar ou jogar mais abaixo". Na Covilhã, a Selecção vai dormir a 1600 metros e treinar a 700m, antes de rumar à zona de Joanesburgo, na África do Sul, onde vai ficar instalada a 1800 metros de altura (na a primeira fase do mundial). Referiu o Dr. Henrique Jones que "o maior rendimento do treino em altitude tem sempre a ver com a regra de 'viver em altitude e treinar ou jogar mais baixo', para não prejudicar a programação do próprio treino em termos de cargas e duração das mesmas", adiantando que este princípio se aplica em especial aos desportos colectivos, como o futebol. “Tal foi preconizado para a selecção nacional, pois passamos grande parte do tempo perto dos 1800 metros e treinamos ou jogamos por volta dos 1000 metros, ou mesmo a nível do mar, como é o caso dos primeiros jogos na África do Sul". Para o Dr. Henrique Jones, as vantagens de estagiar em altitude têm a ver, “sobretudo, com melhor adaptação cardio-respiratória e metabólica e consequente melhor resposta a situações de diminuição da pressão parcial de oxigénio que se verifica a média altitude”. "Os efeitos directos no rendimento dos atletas poderão ser maior facilidade na componente aeróbia do treino e competição, melhor aclimatização em termos de temperatura e humidade, maior adaptação sanguínea e consequente melhor aporte na oxigenação muscular e no processo de controlo cardio-respiratório".

As razões que terão levado os responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol a propor a realização de um período inicial de estágio em altitude e a escolha de centro de treinos a determinada altitude, na África do Sul, terão a ver com investigação e recolha de opiniões liderada pelo seleccionador nacional (Carlos Queiroz), para optimizar, em termos fisiológicos, o rendimento desportivo dos atletas aquando da competição. Face às altitudes em causa (média a baixa altitude) não é objectivo grandes transformações metabólicas, mas tão só uma aclimatização gradual e adaptada ao cenário real. “Os períodos de 8, 12 dias de permanência a média altitude já poderão ser significativos nos nossos objectivos”, disse o Dr. Henrique Jones.

REFERÊNCIAS:

  1. Sendo inquestionavelmente importante a presença da Selecção Nacional – Clube Portugal na Covilhã, não nos esqueçamos do seu propósito – treinar e melhorar a sua forma de jogar. Cabe à CIDADE (e todos os seus activos, individuais ou colectivos, públicos ou privados, com ou sem fins lucrativos) rentabilizar a sua envolvência e o seu mediatismo. Para acontecer é importante querer que aconteça.
  2. Porque a excelência não aparece sem paixão, nos próximos tempos a Covilhã tem de passar de “cidade 5 estrelas” a “cidade 10 estrelas”. Penso eu de que.
  3. Que esta iniciativa alargue os horizontes do investimento público-desportivo na cidade. Com as condições naturais que temos (altitude e clima), um Centro de Alto Rendimento assentaria que nem uma luva. Mas o concelho, nem um (!) campo sintético ou um (!) pavilhão municipal tem… (mas isso é estória para outro dia!).

PORTUGAL vice-campeão “europeu” de FUTSAL

Decorreu entre 19 de Janeiro de 2010 e este Sábado (30 de Janeiro), na Hungria, o Campeonato da Europa de Futsal 2010. Além de contar com a presença da nossa selecção nacional de futsal, outras selecções “europeias” estiveram presentes neste evento. E coloco europeias entre aspas porque na realidade, há selecções europeias que têm mais de sul-americanas que europeias.

Portugal apurou-se para os quartos-de-final depois de um empate (!) com a Bielorrúsia e uma derrota pesada com a Espanha (6-1). Nos quartos, o melhor jogo deste Europeu para as nossas cores: vitória sobre a Sérvia por 5-1, e curiosamente único jogo desta fase que não foi decidido na marca da grande penalidade. Nas meias-finais, defrontámos novamente o Azerbaijão. E digo novamente pois foi com eles que disputámos o apuramento para este Europeu. Empate a 3 no tempo regulamentar (como no apuramento) e nos penaltis fomos mais fortes que os azeris sul-americanos (tantos são os brasileiros naturalizados). Com o penalti histórico de Gonçalo Alves, Portugal estava na final de um Campeonato da Europa de Futsal pela primeira vez, onde defrontou a (toda poderosa) Espanha. Na final, pese embora as dificuldades fossem muitas, a maior pareceu-me provocada e causada por nós mesmos. Errar contra quem erra pouco torna-se ainda mais difícil e dos 4 golos sofridos, alguns foram oferecidos. Valeram os últimos minutos onde equilibrámos o marcador e a esperança num resultado ainda melhor e inesquecível. Portugal perdeu na final contra a selecção mais bem organizada do mundo, com um conhecimento do jogo e dos seus momentos muito acima da média. Se o Brasil resolve com qualidade técnico-táctica, a Espanha resolve com qualidade táctico-estratégica. Portugal é vice-campeão e o sentimento só pode ser de satisfação, com ambição de na próxima final, retirarmos palavra vice à de campeão. Uma palavra de apreço e agradecimento aos briosos representantes do futsal português que tamanha demonstração deram da nossa qualidade e da necessidade urgente e premente de evolução estrutural, técnica e administrativa (se sem ovos não se fazem omoletes, quando se tem ovos é preciso saber fazê-las).

Diz o ditado que só faz falta quem está mas verdade seja dita que a esta selecção faltou quem desequilibrasse ofensivamente em situações de 1x1 porque nos demais processos e momentos, fomos (e somos) equilibrados, organizados e demonstramos qualidade. Mas faltou magia. Faltou quem ofensivamente desate o “nó” aos adversários.

Com este “Europeu” ficou bem visível que está no topo o comprometimento do desenvolvimento do futsal em alguns países. Valerá a pena ser jovem futsalista de nacionalidade azeri, russa ou italiana? As três selecções têm na sua constituição, mais brasileiros que naturais do seu país. E também Portugal já tem Evandro e Leitão de quinas ao peito. A globalização permitiu de forma “natural” as naturalizações e agora assistimos a encontros pouco ou nada sentimentais a nível de patriotismo. Terá Evandro ou Leitão (importa referir que este nunca jogou em Portugal) o mesmo sentimento ao ouvir o hino nacional que Pedro Costa, Gonçalo Alves, João Benedito ou Arnaldo Pereira? Naturalmente que não. Mas sejamos realistas que acrescentam qualidade e tornam-se mais-valias num colectivo que se quer mais forte, equilibrado e ganhador. E que me recorde, não foi Portugal o pioneiro em questões de naturalização. Nem no futsal, nem no futebol. E se os outros, que usam todos os argumentos legais possíveis para vencer e fazem das naturalizações um argumento de vitória, qual a razão para continuarmos a ser o país honesto que, sem usar os mesmos argumentos que os outros, não lhes conseguimos vencer. Assim sendo, façamos uma ou outra, com critério, sem nunca descurar a formação e a integração de jovens com qualidade, capacidade e competência. Somos Portugal e só pelo Brasil ser o país irmão não signifique que tenhamos que os “integrar” nas nossas selecções nacionais séniores. Os nossos jovens (futsalistas e futebolistas) e quem trabalha a formação (clubes) merece maior atenção porque também temos talento em Portugal.

REFERÊNCIAS:

  1. A presença de Portugal no Campeonato da Europa de Futsal Hungria 2010 ficou longe de se cingir à participação da nossa Selecção na competição. Quatro portugueses estiveram em Budapeste e Debrecen a trabalhar para a UEFA com o objectivo de fazer do Euro 2010 o melhor Europeu da modalidade de sempre. Em diferentes áreas, eram eles Teresa Moraes, Pedro Dias, Daniel Ribeiro e José Miguel Béco.
  2. Nos quartos-de-final do referido Europeu, uma situação caricata que poderia ter contornos graves e desastrosos, quer para os intervenientes em causa quer para a própria UEFA. A decisão do apuramento do Rússia Espanha foi através da marcação de grandes penalidades e após o golo válido de Javi Rodriguez, que tanta foi a violência do remate que a bola entrou e quase automaticamente saiu, os árbitros decidiram a continuação dos penaltis por terem percepcionado que a bola não tivesse entrado, quando de facto, entrou e de forma evidente. Conclusão: os penaltis continuaram e a Espanha teve de vencer duas vezes o encontro para se apurar para as meias-finais do Europeu. Mais caricato seria a Rússia vencer, depois da Espanha já o ter feito. Nada bonita esta imagem que o Futsal deu, numa montra como o Europeu da modalidade.