O caminho para a África do Sul não está nada fácil e parece mesmo uma viagem sem fim á vista. Primeiro a fase de grupos correu como todos sabemos e depois do sorteio, o que todos pensavam e poucos avisavam confirmou-se ser verdade e acima de tudo uma enorme dificuldade. No Sábado, em plena Luz, valeu-nos a iluminação de Bruno Alves no lance do golo e a constante (contrastando com os restantes) irradiação de bem jogar de Pepe. Que mês desculpem quem comigo discordar, mas Sábado a selecção foi Pepe e mais 10. Portugal foi a meu ver, e não por comportamento estratégico, pouco constante e consistente no seu jogar durante os 90 minutos. Intermitente digamos. Portugal criou situações de finalização para alcançar outro resultado mas no lado oposto, nem sempre controlou o jogo adversário. Não sei que análise interna fará Queiroz mas no meu entender, Portugal não foi personalizado, mostrou uma identidade irregular durante os 90 minutos, dominou e controlou a espaços e cometemos o erro colectivo emocional de “entrar” no jogo que mais interessava à Bósnia. Sabemos bem que os rankig’s da FIFA pouco contam, mas vi Portugal pouco convicto da sua tarefa e algo reticente em alguns momentos do jogo e vi na Bósnia uma selecção consciente da dificuldade de jogar em Portugal e soube levar o jogo para o seu país equilibrado e com francas possibilidades de, ao fazer um golo, empatar a eliminatória. Esta abordagem mental que Portugal demonstrou ficou bem evidenciada após o golo de Bruno Alves. Não foi a Bósnia que subiu o bloco defensivo e que provocou o erro em Portugal. Fomos nós que parámos a nossa dinâmica posicional ofensiva e começámos a jogar mais estáticos o que facilita quem defende. Nos últimos 15 minutos da primeira parte a Bósnia ganhou tantos cantos como Portugal tinha ganho em 30 minutos. E num deles, valeu-nos a barra. O que vi neste primeiro jogo foi a Bósnia adormecer Portugal e quando sentia a “sonolência colectiva dos nossos” aumentava a intensidade individual e colectiva, jogava em progressão e criava aquelas situações que nem preciso descrever. Portugal jogou em progressão sempre que tinha a bola e a Bósnia jogou em contenção e só depois em progressão. Esperemos que na Bósnia os nossos eleitos percebam que quando não temos a bola o mais importante é recuperá-la de forma organizada e que não adormeçam com a posse em contenção+progressão dos Bósnios. A segunda parte teve alguns momentos entusiasmantes, mas disso não passaram. Continuei a observar uma “teia” montada pelo senhor Miroslav Blazevic que só pela ajuda de uma barra e um poste não “amarrou” Carlos Queiroz. Salvou-se o resultado e que as ilações deste jogo sejam realistas. A nível individual, Pepe foi, para mim, impressionantemente muito acima da média. Quer a nível posicional defensivo e ofensivo, quer ao nível do passe, do desarme, da intercepção, da abnegação e da qualidade volitiva demonstrada em cada lance. Parece português desde pequenino! Deco esteve demasiado tempo num espaço que, após o amarelo aos 14 minutos, o condicionou na sua tarefa de acção “secundária” – primeira referência colectiva para impedir a transição adversária após perda da bola de Portugal. No lugar de Queiroz, ao intervalo tinha preparado a substituição por Tiago mais cedo, dependente apenas da atitude colectiva dos Bósnios. E porque os Bósnios raramente subiram o bloco defensivo, Deco teve apenas alguns lances onde o espaço lhe foi favorável – de frente para a baliza e em progressão com bola (exemplo disso o lance em que assiste Liedson). Simão parecia “italiano” tal a preocupação em fechar espaços defensivos que o inibiram de atacar e desequilibrar como ele tanto sabe. Esta opção estratégica levou Portugal a “inclinar” o jogo ofensivo para Nani, este sim, “português de gema”, liberto de acções defensivas para ser a referência no ataque e atacar o 1x1 nos corredores laterais. Esta opção reflecte-se directamente na pouca vocação ofensiva demonstrada por Paulo Ferreira no lado direito. Compreensível, dado os comportamentos colectivos tácticos e estratégicos que Portugal adoptou. Ultima palavra para alguém que, estando a um amarelo da suspensão, demonstrou uma atitude defensiva e ofensiva de enorme intensidade e agressividade, deixando sempre a sensação que a qualquer distracção adversária, o golo estava iminente – Liedson. Quarta-feira segue-se outra música e muitas dificuldades. Será um jogo intenso, onde a qualidade no passe e no comportamento posicional dinâmico (ofensivo e defensivo) será decisivo. A isto acrescento ainda as partes fixas do jogo e teremos uma eliminatória decidida no detalhe e no “pormaior” (que é treinável).
REFERÊNCIAS:
- Carlos Carvalhal? É português, alcançou bons resultados com Leixões e Setúbal e não me parece consistente a nível de desempenho desportivo (já passou por Aveiro, Madeira, Vila das Aves, Braga, Belém, Setúbal e Grécia). Um treinador modesto no percurso mas com boas referências “académicas”, em quem o Sporting e o seu presidente parecem apostar pouco – contrato até final da época. Não acredito estarem criadas condições para Carvalhal ganhar no imediato e ou muito me engano ou vamos ver o Sporting “cumprir” calendário até final da época. Antevejo ver o Sporting CP actuar em organização defensiva à espera do momento de ganhar a bola (para transitar rápido) e em termos de ataque posicional terá dificuldade em alterar a atitude pouco dinâmica e previsível do seu jogar.
- Villas Boas (treinador de futebol à 30 dias) chegou à um mês a Portugal, já tem mercado “grande”, capas de jornais e uma imagem a rodeá-lo de grande treinador. Não retirando competência à pessoa, deixem trabalhar/treinar Villas Boas sff!
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