segunda-feira, 14 de junho de 2010

África nossa (I)

A estreia da nossa selecção todos sabem quando é. Por isso, não se torna necessário dizer que é hoje, terça-feira, às 15h00 em Port Elizabeth, na África do Sul. Enquanto isso, o Mundial propriamente dito começou. Aquele em que o jogo é o auge e tudo o que o envolve passa para segundo plano. Tudo, à excepção das vuvuzelas e do seu som característico, que nos entra em casa pela TV e nos ouvidos como se fossem abelhas. Não mordem nem picam, mas chateiam. Parecem moscas!

Dia 1 do Mundial – África do Sul 1 México 1. Grande jogo de ordem organizacional e táctico-estratégica durante os primeiros 60 minutos. Dos 60 aos 93, o jogo foi mais emocional que racional, típico de mundial em dia de abertura, com muita desorganização ofensiva a permitir inúmeras transições. Mas primeiro, o que o jogo teve de mais bonito. Bons momentos organizacionais do México, com “metamorfoses” tácticas com bola e sem bola. Sem bola a última linha defensiva era composta por 4 jogadores, com bola os dois defesas laterais subiam linhas e o médio defensivo (#4 Marquez) baixava para a linha dos dois centrais, originando um 3.4.3. Após o nulo ao intervalo, o experiente Parreira deu o rebuçado a Aguirre e com uma equilibrada organização defensiva, os sul africanos foram muito fortes na transição ofensiva, originando desse momento um golo (grande golo) e várias oportunidades não concretizadas. O México aproveitou um erro individual de um sul africano para empatar (a defesa subiu e ele ficou, colocando em jogo 3 mexicanos), um jogo que se tornou demasiado desorganizado com o passar do tempo, associado talvez ao desgaste emocional provocado pela ansiedade da estreia no Mundial. Uruguai 0 França 0. Quando a tensão pelo jogo ocupa o lugar da imaginação e da correcta tomada de decisão, sobra transpiração e o jogo torna-se pouco interessante. Tivemos aqui um bom exemplo de como mais importante que a disposição táctica inicial de cada equipa (Uruguai 4.4.2, França 4.3.3) é a sua dinâmica individual, colectiva e posicional. Houve ingredientes mas foram mal cozinhados e com isso, o Grupo A acaba a 1ª jornada como começou – tudo empatado.

Dia 2 do Mundial – Coreia do Sul 2 Grécia 0. Quando a organização defensiva não se sobrepõe à ofensiva, a Grécia não vence. Os gregos defendem bem, mas melhor quando estão em vantagem no marcador, porque em desvantagem perdem algum equilíbrio em ataque organizado e posteriormente na transição defensiva. Os Coreanos, bem organizados e com transições a fazer lembrar os tempos de Guus Hiddink (sem condução, em progressão e com enorme disponibilidade física e numérica), demonstram que futebol organizado, rápido e atractivo não é só na Europa, África ou América. Argentina 1 Nigéria 0. O jogo teve tanto de brilhante como de suspense. A Argentina podia ter ganho confortavelmente e a Nigéria podia ter empatado. É assim o resultado no futebol. Vitória empate e derrota, em certos jogos, andam muito próximos, quase de mãos dadas. Para um grande Messi um enorme Enyema (gr nigeriano). Pelo que vimos, a Argentina vai dar que falar. Parece explicada a convocatória do trintão Véron. Diego Armando Maradona precisa alguém dentro de campo que saiba o que fazer, como fazer, quando fazer e o que dizer a Maradona sobre o que se está a passar. Por isso me faz alguma confusão a não convocatória de Cambiasso e Zanetti. Inglaterra 1 EUA 1. Uns ingleses consistentes mas lentamente persistentes e um gr amigo ditaram um empate amargo para ingleses e saboroso para americanos. O americano Tim Howard (gr) que joga em Inglaterra foi, naturalmente, o melhor em campo, o que significa qualidade defensiva individual e colectiva americana e qualidade ofensiva individual e colectiva inglesa. Perante duas equipas bem organizadas, devem estar aqui as duas equipas a passar. Provavelmente.

Dia 3 do Mundial – Argélia 0 Eslovénia 1. Atrevia-me a dizer que estas duas equipas não ganhavam a ninguém, mas Chaouchi (gr argelino) teve a gentileza de contrariar a minha ideia inicial com aquela abordagem ao lance no mínimo estranha. Veremos nos próximos dois jogos quantos pontos fazem ambas as equipas. Sérvia 0 Gana 1. Os lutadores africanos levaram a melhor sobre os interessantes e mecanizados sérvios. Duas equipas lideradas por treinadores sérvios, duas equipas bem organizadas defensivamente. A Sérvia com mais qualidade individual e no passe curto e longo, o Gana com mais “ganas” nos duelos individuais e mais pressionante. Duas equipas interessantes que, por causa da Alemanha, uma vai regressar a casa mais cedo. Alemanha 4 Austrália 0. Uma Alemanha muito forte para uma Austrália muito fraca só podia dar goleada. Ver ao vivo Cabo Verde e pela televisão a Austrália, as diferenças colectivas não me parecem muitas e arrisco mesmo a dizer, que a nível de organização de jogo, Cabo Verde teve contra Portugal comportamentos posicionais que a Austrália foi incapaz de estabelecer contra a Alemanha. Para não variar, temos Alemanha para chatear!

REFERÊNCIAS:

1. Até agora, 406 mil 253 espectadores viram ao vivo os jogos do mundial. O jogo com maior assistência foi o inaugural (84.490), o de menor assistência o Argélia x Eslovénia (30.325).

1 comentário:

Amílcar Tavares disse...

Belo post! E gostei da referência a Cabo Verde :) O João de Deus está fazendo um trabalho meritório lá.

Estou gostando das selecções africanas pois eram os bombos da festa há umas Copas. A evolução tem sido notória apesar das 3 derrotas -- uma merecida (Camarões), um frango (Argélia) e outra (Nigéria) frente a um candidato -- dois empates e uma vitória.

Eriksson mostrou hoje uma equipa forte tacticamente. Parreira também. Milovan Rajevac também. Rabah Saadane também.

As nódoas ficam na Nigéria e os seus habituais problemas organizativos e Ministros que dão dicas. Os Camarões também têm os mesmos problemas e ainda se juntam as suas primma donnas.