terça-feira, 28 de abril de 2009

imperturbável

Quantos de nós não gostariam de saber, antecipadamente, o desenrolar dos acontecimentos num determinado jogo, numa determinada competição, ficando calma e tranquilamente a assistir ao jogo, sabendo o que fazer e quando fazer, perspectivando e acertando no seu resultado final. Reconhecemos que isso faria desaparecer a emotividade, a incerteza, a emoção e a paixão pelo jogo. Todas as pessoas envolvidas no fenómeno desportivo (e não só) já ouviram falar, e falam, em stress. Ouvimos, conversamos e até dizemos que o temos ou que não o temos, mas será que sabemos o que é e acima de tudo, como lidar com ele? Ansiedade, pressão ou medo de falhar podem ser associados a stress mas, são termos demasiado usuais em algumas equipas, em alguns grupos de trabalho e em alguns discursos. Concentrem-se naquilo que querem! Então, não falemos em pressão, não falemos em ansiedade, não falemos em stress. Antes reconheçamos que tudo isto existe, está presente e que não vai desaparecer com o apito do árbitro. Temos então, reconhecendo que estes factores existem e fazem parte da competição, aprender a lidar com estas sensações. Entendamos stress como “aquilo que sentimos e a forma como reagimos a uma situação ameaçadora e incerta” (Jorge Silvério). Torna-se importante pois, primeiro que tudo, reconhecer que estamos numa situação sob stress. No fenómeno desportivo, a maior parte das ameaças (situações de stress) resultam dos nossos pensamentos e existem apenas na nossa imaginação ou mente, por isso é importante ter a mente treinada, e sobretudo, “criar” na nossa imaginação e no nosso pensamento situações positivas e desejadas, passíveos de concretização. Quando se pensa “o que acontece se perder o jogo?” pensemos antes como será a vitória e a reacção de tudo o que nos envolve (atletas, clube, família, comunicação social). Preparemo-nos para aquilo que queremos e não para aquilo que não queremos, mas, não fiquemos obcecados com a vitória e saibamos reconhecer e aceitar todo e qualquer resultado. O stress pode ser negativo e prejudicar a actuação do atleta/treinador, mas também pode ser positivo e levar a que se obtenha um melhor rendimento desportivo. Uma das principais características de um jogo de futsal e de qualquer jogo desportivo colectivo é a incerteza do acontecimento. Não interessa o adversário, o contexto ou factores extrínsecos. Nunca saberemos de antemão qual vai ser o resultado final e também não saberemos qual vai ser o nosso rendimento durante o jogo. Este tipo de incerteza comportamental aumenta o stress. Se soubéssemos o resultado e as nuances estratégicas no decorrer do jogo não sentiríamos stress e pressão. Não sabemos o que vai acontecer mas podemos imaginar e sobretudo, podemos planear e treinar o lado estratégico do jogo tendo em conta aquilo que pode acontecer e que, só no momento, ficaremos a saber. É impossível eliminar este stress mas é possível lidar com ele de modo a que a sua influência negativa seja a menor possível e “transformá-lo” em manifestação/influência positiva. Podemos (e isso treina-se) reduzir o nível de stress originado pelos pensamentos que invadem a nossa mente, bem como regular esse nível. É importante identificar a forma como se manifesta o stress antes e durante o jogo (idas frequentes à casa de banho; boca seca; mãos transpiradas; respiração forte; aumento da frequência cardíaca). Cada indivíduo tem o seu nível de stress e em cada indivíduo a sua manifestação é individual e particular. É fundamental que se reconheça para que o índice de rendimento seja óptimo. Stress demasiado baixo (relaxamento mental, emocional e comportamental) pode ser prejudicial, assim como stress demasiado alto (sintomas de cansaço, ansiedade, dores de cabeça, dores de estômago, dificuldade em permanecer no mesmo lugar) também o pode ser. Precisamos encontrar o “nível de stress óptimo” para que o rendimento seja de qualidade superior não de vez em quando mas sempre.

Podemos “contornar” o stress com o treino: treinem o jogo, os seus momentos, os seus pormenores e detalhes, o seu conhecimento e todas as nuances estratégicas que lhe estão inerentes. Se os atletas, durante o jogo, sentirem que o que está a acontecer foi treinado, a ansiedade reduz porque reconhecem o momento e o nível de stress ficará em patamares de rendimento desejáveis.


REFERÊNCIAS:

1. Sexta-feira, 1 de Maio de 2009, 25ª Jornada do Campeonato Nacional de Futsal – FutSagres, AD Fundão – Sporting CP, 16h, Pavilhão Municipal do Fundão. Se não tiver oportunidade de se deslocar ao pavilhão, assista pela televisão – SIC Radical.

2. Sexta-feira, 1 de Maio de 2009, 1ª Jornada da Taça Nacional de Futsal Feminino – AD Fundão – Posto Santo (representante dos Açores), 19h, Pavilhão Municipal do Fundão.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 28 de Abril de 2009)


terça-feira, 21 de abril de 2009

no cimento?

Comecemos com um pouco de Geografia. O Distrito de Castelo Branco (4º maior de Portugal) é constituído por 11 (onze) concelhos. Apenas por mera curiosidade, esses onze concelhos são: Belmonte, Castelo Branco, Covilhã, Fundão, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei e Vila Velha de Ródão. O Distrito tem ainda uma área geográfica de aproximadamente 6.675 km² e cerca de 210 mil habitantes. Percebe-se assim que o Distrito é grande e quando é necessário, por exemplo, escolher um Pavilhão para receber, por exemplo, uma final de uma competição distrital, a escolha e a variedade não é reduzida (não andarei longe de acertar se afirmar que cada concelho tem, no mínimo, 1 pavilhão).

A Associação de Futebol de Castelo Branco marcou para o dia 18 de Abril de 2009 (passado Sábado), a Final da Taça A.F.C.B. Futsal Seniores Feminino. Naturalmente que estas datas estão marcadas com antecedência, porque os calendários oficiais de provas assim o obrigam e a planificação/sistematização/organização de uma competição oficial organizada pela nossa Associação a isso os compromete e responsabiliza. Além disso, também a taxa de ocupação dos Pavilhões do distrito é uma razão para a prévia preparação/organização/marcação do jogo acima referido. Foi assim, com natural expectativa, que a Secção de Futsal Feminino da Associação Desportiva do Fundão aguardou a designação por parte da A.F.C.B. do Pavilhão para a referida competição. Com um distrito tão grande e com tantos pavilhões, seria difícil este jogo ser marcado para um pavilhão com condições precárias, inaceitáveis e até que colocasse em causa a integridade física das atletas envolvidas na final. Contudo, a A.F.C.B. conseguiu surpreender-me e indignar-me! A mim pessoalmente, à Secção de Futsal Feminino da AD Fundão e a quem se preocupa, interessa, valoriza e dignifica o Futsal Feminino no Distrito de Castelo Branco. A A.F.C.B. designou, para a final da Taça A.F.C.B. Futsal Seniores Feminino, entre tantos Pavilhões no Distrito, um pavilhão com piso de cimento (!), de reduzidas dimensões (!) e rodeado/cercado em toda a volta por madeira e barras de ferro (!). Era difícil, mas a A.F.C.B. conseguiu escolher um pavilhão com este tipo de condições, para a Final de uma competição oficial, organizada pela entidade máxima que rege o futsal distrital. Que pobre imagem! Foi então assim, no Pavilhão do Sport Lisboa Águias do Dominguiso, que se defrontaram AD Fundão e GCA Donas. Os clubes nada podem fazer. Nem os intervenientes, nem quem acolhe a prova, mas era dever de quem rege uma maior preocupação para que situações como esta não aconteçam nem se repitam. A A.F.C.B. deu mais um exemplo prático do comportamento pouco razoável e de desvalorização que tem tido relativamente ao futsal feminino distrital (a juntar à recente “ideia” da criação da selecção de futebol de 7 feminino com atletas do futsal).

Para a história fica este (penoso) episódio (da designação do pavilhão) e o resultado final. AD Fundão 10 (dez) – GCA Donas 0 (zero). Nesta competição, a AD Fundão marcou mais de 70 golos e não sofreu nenhum (em 5 jogos disputados).

Juntámos a conquista da Taça ao Campeonato Distrital e agora vem a Taça Nacional (com início a 1 de Maio).

Inteligência, humildade, responsabilidade e competência! Com “isto” e qualidade no treino, no jogo e na forma de jogar, a nossa ambição, (auto) confiança e desejo de vencer é enorme!


REFERÊNCIAS:

1. Sábado, 25 de Abril, Torneio da Liberdade / Futsal Feminino / Cidade do Fundão. A partir das 11h, no Pav. Municipal do Fundão. AD Fundão, CRC Quinta dos Lombos (campeã distrital da AF Lisboa) e Unidos da Estação (campeã distrital da AF Viseu).


(Este artigo foi publicado no jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 21 de Abril de 2009)

sábado, 11 de abril de 2009

"idiossincrasias" de cada um

Todos diferentes, todos iguais. Cada ser é diferente de cada outro, assim, podemos dizer que cada um tem a sua “idiossincrasia”, isto é, “temperamento especial de cada indivíduo (relativamente à influência que nele exerce o que lhe é alheio) ”.

No desporto, cada atleta/treinador/médico/dirigente é também diferente do seu companheiro/adversário. Contudo, apesar de cada um ter a sua idiossincrasia, é tambem verdade que existem aspectos comuns, por exemplo, nos praticantes de uma determinada modalidade. Nos treinadores, por exemplo, queremos que a idiossincrasia comum a cada atleta, seja, a inteligência e a qualidade do seu jogar.

Imprescindível e fundamental dispor de atletas cada vez mais completos mas igualmente bem formados. Mas mesmo assim, falta qualquer coisa. A um atleta evoluído e completo exige-se mais. É nos pormenores, nos detalhes e nos momentos de decisão que se revelam os atletas mais evoluídos, aqueles que transformam um pormenor num “pormaior” e que conseguem ter um rendimento superior aos restantes. Atletas que possuem uma capacidade de inteligência para o jogo acima da média, valorizando este factor de rendimento (senão o principal), são de rendimento superior relativamente aos restantes, porque nos momentos de decisão decidem sempre ou quase sempre bem. A inteligência do jogar desenvolve-se e adquire-se tal como se aprende, se adquire e se operacionalizam, por exemplo, os princípios de jogo gerais e específicos, da defesa e do ataque. Para melhorar o nível de inteligência do jogo, a médio e longo prazo, o ideal seria começar nos escalões de formação etariamente mais baixos (entre os 6 e os 12 anos), adaptando o jogo e o exercício de treino às características mentais e morfológicas das crianças, de modo a que estes se sintam estimulados. Entre outros aspectos, deveria proporcionar-se à criança/atleta um sistemático desenvolvimento do pensamento e do seu comportamento táctico-técnico e uma progressiva estimulação das suas capacidades perceptivas e intelectuais. Devido ao facto de simultaneamente ao toque na bola se desenvolverem conhecimentos e pensamentos (as dúvidas que surgem com a bola na posse individual), é necessário estimular a inteligência do jogo e direccionar o pensamento do atleta para a estimulação do cérebro, para a melhor decisão em função do momento, do contexto e das opções. Tendo em linha de conta as características eminentemente cognitivas do Futsal, importa direccionar a aprendizagem (através do treino) para construções significativas de conhecimentos táctico-técnicos e de conhecimento do jogo (estimulando a inteligência do jogo). O que na realidade se pretende é que os atletas obtenham/adquiram um grande conhecimento do jogo, que o entendam, que o percebam e que o interpretem. Contudo, a aquisição destes (e outros) conhecimentos por parte dos atletas é resultado de um processo pedagógico no qual o treinador tem a responsabilidade de ensinar e fazer compreender os conhecimentos e acções recentemente praticadas pelo atleta num determinado exercício de treino. Um número adequado de repetições da mesma situação de jogo, do mesmo momento do jogo, do mesmo exercício, resulta no “transfer” da solução do problema para o jogo e constrói-se, na mente do atleta, um fundamento sólido para o desenvolvimento da sua inteligência do jogar. Direccionar os atletas para o objectivo pretendido, questionando-os permanentemente e focalizando a sua atenção e a sua intervenção nos objectivos pretendidos (em função do objectivo do exercício, tentando consolidar uma ideia de jogar - um modelo de jogo, fortalecendo a organização de jogo e uma identidade colectiva), levando o atleta a descobrir a melhor decisão para determinado momento é responsabilidade do Treinador. É irrelevante se o rendimento do atleta é fruto da repetição provocada pelo treino ou apenas fruto da sua qualidade técnica e da sua espontaneidade, o importante é que o atleta seja capaz de conhecer e interpretar a situação que se lhe deparou e resolvê-la com sucesso. Assim, um dos aspectos mais influentes no desenvolvimento do jogo é a inteligência do seu praticante/executante.


REFERÊNCIAS:

1. "Uma boa decisão não garante necessariamente um bom resultado, tal como uma má decisão não garante um mau resultado. Mas uma boa decisão aumenta as probalidades de sucesso." (Hammond, Keeney & Raiffa).

2. Cada um tem a sua (idiossincrasia/qualidade/inteligência), e é livre de fazer com ela o que bem entender. Logo que seja organizado, respeite o colectivo e seja objectivo consigo e com os outros.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 7 de Abril de 2009)