sábado, 11 de abril de 2009

"idiossincrasias" de cada um

Todos diferentes, todos iguais. Cada ser é diferente de cada outro, assim, podemos dizer que cada um tem a sua “idiossincrasia”, isto é, “temperamento especial de cada indivíduo (relativamente à influência que nele exerce o que lhe é alheio) ”.

No desporto, cada atleta/treinador/médico/dirigente é também diferente do seu companheiro/adversário. Contudo, apesar de cada um ter a sua idiossincrasia, é tambem verdade que existem aspectos comuns, por exemplo, nos praticantes de uma determinada modalidade. Nos treinadores, por exemplo, queremos que a idiossincrasia comum a cada atleta, seja, a inteligência e a qualidade do seu jogar.

Imprescindível e fundamental dispor de atletas cada vez mais completos mas igualmente bem formados. Mas mesmo assim, falta qualquer coisa. A um atleta evoluído e completo exige-se mais. É nos pormenores, nos detalhes e nos momentos de decisão que se revelam os atletas mais evoluídos, aqueles que transformam um pormenor num “pormaior” e que conseguem ter um rendimento superior aos restantes. Atletas que possuem uma capacidade de inteligência para o jogo acima da média, valorizando este factor de rendimento (senão o principal), são de rendimento superior relativamente aos restantes, porque nos momentos de decisão decidem sempre ou quase sempre bem. A inteligência do jogar desenvolve-se e adquire-se tal como se aprende, se adquire e se operacionalizam, por exemplo, os princípios de jogo gerais e específicos, da defesa e do ataque. Para melhorar o nível de inteligência do jogo, a médio e longo prazo, o ideal seria começar nos escalões de formação etariamente mais baixos (entre os 6 e os 12 anos), adaptando o jogo e o exercício de treino às características mentais e morfológicas das crianças, de modo a que estes se sintam estimulados. Entre outros aspectos, deveria proporcionar-se à criança/atleta um sistemático desenvolvimento do pensamento e do seu comportamento táctico-técnico e uma progressiva estimulação das suas capacidades perceptivas e intelectuais. Devido ao facto de simultaneamente ao toque na bola se desenvolverem conhecimentos e pensamentos (as dúvidas que surgem com a bola na posse individual), é necessário estimular a inteligência do jogo e direccionar o pensamento do atleta para a estimulação do cérebro, para a melhor decisão em função do momento, do contexto e das opções. Tendo em linha de conta as características eminentemente cognitivas do Futsal, importa direccionar a aprendizagem (através do treino) para construções significativas de conhecimentos táctico-técnicos e de conhecimento do jogo (estimulando a inteligência do jogo). O que na realidade se pretende é que os atletas obtenham/adquiram um grande conhecimento do jogo, que o entendam, que o percebam e que o interpretem. Contudo, a aquisição destes (e outros) conhecimentos por parte dos atletas é resultado de um processo pedagógico no qual o treinador tem a responsabilidade de ensinar e fazer compreender os conhecimentos e acções recentemente praticadas pelo atleta num determinado exercício de treino. Um número adequado de repetições da mesma situação de jogo, do mesmo momento do jogo, do mesmo exercício, resulta no “transfer” da solução do problema para o jogo e constrói-se, na mente do atleta, um fundamento sólido para o desenvolvimento da sua inteligência do jogar. Direccionar os atletas para o objectivo pretendido, questionando-os permanentemente e focalizando a sua atenção e a sua intervenção nos objectivos pretendidos (em função do objectivo do exercício, tentando consolidar uma ideia de jogar - um modelo de jogo, fortalecendo a organização de jogo e uma identidade colectiva), levando o atleta a descobrir a melhor decisão para determinado momento é responsabilidade do Treinador. É irrelevante se o rendimento do atleta é fruto da repetição provocada pelo treino ou apenas fruto da sua qualidade técnica e da sua espontaneidade, o importante é que o atleta seja capaz de conhecer e interpretar a situação que se lhe deparou e resolvê-la com sucesso. Assim, um dos aspectos mais influentes no desenvolvimento do jogo é a inteligência do seu praticante/executante.


REFERÊNCIAS:

1. "Uma boa decisão não garante necessariamente um bom resultado, tal como uma má decisão não garante um mau resultado. Mas uma boa decisão aumenta as probalidades de sucesso." (Hammond, Keeney & Raiffa).

2. Cada um tem a sua (idiossincrasia/qualidade/inteligência), e é livre de fazer com ela o que bem entender. Logo que seja organizado, respeite o colectivo e seja objectivo consigo e com os outros.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 7 de Abril de 2009)

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