sexta-feira, 12 de março de 2010

Relação desporto escolar – desporto federado

As divergências entre o desporto na escola e o desporto no clube reflectem a desarmonia e descoordenação entre dois sistemas que embora devam seguir vias diferentes, concorrem para o mesmo objectivo – o desenvolvimento do desporto nacional (Teixeira, 2007). Na mesma linha de pensamento, Bento (1991), citado por Silva (2006), refere que não há um desporto pedagógico, puro e educativo na escola e outro não pedagógico, impuro e não educativo no clube; não há um desporto bom que se deve escolher e um desporto mau que se deve rejeitar; são impróprias a dicotomia e a oposição entre clube e escola, entre professor e treinador, entre treino e educação. Na mesma linha de pensamento, Constantino (1996) citado por Silva (2006), refere que a escola e o clube são, apenas, dois momentos de um mesmo objectivo e de uma mesma função. Em suma, cabe a todas as entidades fazer um esforço na mobilização e coordenação dos recursos que lhe são possíveis, no sentido de remover os obstáculos, tendentes a limitar as condições de acesso, das crianças e jovens, ao Desporto Escolar (Silva, 2006). O Desporto Escolar deve promover um lugar de encontro entre a Escola e a comunidade local, de forma a permitir a participação de todos os parceiros sociais no desenvolvimento das suas actividades (Carvalho, 1987, citado por Silva, 2006). Pensamos assim ser importante o Desporto Escolar estabelecer e manter protocolos de colaboração com clubes, federações, autarquias e entidades públicas ou privadas, no sentido de promover e divulgar as suas actividades, convidando a comunidade envolvente a fazer parte dos projectos de uma escola e/ou Agrupamento. Pinto (2003) refere que a Escola não deve disputar o espaço do Desporto Federado porque não prossegue os mesmos objectivos. A base de igualdade em que devem assentar as relações entre o sistema desportivo e o sistema educativo não pode ser configurada, unicamente, num quadro de melhoria da qualidade da prática dos alunos, já que a Escola não reclama a tarefa de formar "campeões". Compete, no universo desportivo português, aos clubes e federações a tarefa de especializar os praticantes, assim como compete, no universo educativo português, a tarefa de proporcionar aos praticantes a prática regular de actividades físicas desportivas orientadas, sem restrição de modalidade. Entendamos assim que existe complementaridade entre o desporto praticado na escola e o desporto praticado fora desta – federado. A problemática, nesta relação, não está tanto na aceitação de um compromisso entre as duas instituições (já que ambos reconhecem essa inevitabilidade), mas está centrada nas funções que cada uma deve assumir no processo de preparação desportiva da criança e do jovem (Silva, 2006). O desporto na escola, seja qual for o seu modelo organizacional, não pode ignorar o movimento federado sob pena de desenvolver um desporto sem sentido (Teixeira, 2007). Deve o Desporto Escolar ser o espaço potenciador e contributivo para o aluno demonstrar capacidades e “talento” para, a nível do clube ou federação, entrar na elite desportiva. Podendo coabitar num espaço comum (a prática de actividade física regular e orientada), o Desporto Escolar e o desporto federado têm, na sua essência, preocupações distintas. É necessária uma efectiva política nacional para o Desporto Escolar, não estando dependente de variáveis circunstanciais ou de verbas disponibilizadas pelo Estado. Precisamos de orientações integradoras de desenvolvimento desportivo concreto, que articuladas ao mais alto nível com entidades públicas ou privadas, desenvolvam o plano desportivo nacional. A diferença entre os dois reside na missão: o Desporto Federado tem como missão o rendimento, o espectáculo e o profissionalismo. O Desporto Escolar deve ter uma missão de educação, generalização, recreação e saúde.

3 comentários:

Francisco Vieira disse...

Considero o seu artigo interessante e oportuno, em especial, quando se discute o apoio (financeiro) ou não por parte das autarquias.

Quando o poder autárquico já interfere na gestão escolar, torna-se importante questionar que tipo de desporto pode e deve ser praticado (nas escolas) e apoiado (pelas autarquias).

Outra questão não menos importante é a que escolheu: «desporto escolar - desporto federado». Para além do "peso" e "importância" nas modalidades desportivas nas escolas e sujeitas ao programa do Desporto Escolar (gerido pelo Min. Educação), existe grande confusão por ignorância(?) ou interesse(?) nas duas formas de praticar desporto, com sobrecarga de horários, práticas e despesas.

Os objectivos como refere são distintos, mas na prática, p.ex., no xadrez, estas questões confundem-se, não havendo, muitas vezes, grandes diferenças nas práticas, nas provas e nos treinos, quando os há.

Existe uma duplicação entre o que a Escola faz ou devia fazer e o que a Federação faz ou devia fazer.
Em grande parte, em Portugal, porventura, porque o jovem está muito tempo na escola.

O clube e a Federação não são, e deviam ser, a continuação da Escola, mas andam de braço dado. Quando acaba o desporto na escola, sobram muito poucos os que continuam a jogar, como no caso que apresento, o xadrez.

Muito poucos pensam ou estão interessados em discutir isto porque não existe uma planificação desta actividade/trabalho. Quem está no xadrez escolar e no xadrez federado são na maior parte dos casos os mesmos quando são professores.

É um circuito fechado.

O seu texto vem chamar a atenção para isto, que (já) é muito importante.

Saúdo-o pela oportunidade e pela forma séria como apresenta o problema.

João Lino disse...

Bom artigo Joel!
Abraço


www.jlino7.blogspot.com

Roberto Pinto disse...

Gostei do artigo, parabéns!
É possível facultar as referências bibliográficas?

Obrigado
Roberto Pinto