terça-feira, 18 de novembro de 2008

1 golo (!)

Os dedos tremem ao escreverem o que sinto e o coração ainda bate mais depressa quando “vejo” os minutos finais e a crueldade que acabou por nos acontecer. Não ha rigorosamente nada que nos conforte, que nos sossegue, tranquilize ou pacifique este sentimento de tristeza, angústia, aperto na alma e no coração, desgosto pessoal, individual e colectivo. Hoje não transmito mais nada a não ser tristeza, amargura e desilusão com a crueldade desportiva resultante de resultados desportivos. A isto, junto “apenas” o enorme orgulho que sinto pelo que vivi e com quem vivi, mesma da forma como o vivemos e acabou!

Na última jornada (6ª) da 1ª fase da Taça Nacional de Séniores Femininos em Futsal só nos restava golear e no mínimo, empatar a diferença de golos com o 1º classificado (Golpilheira) para assim alcançar o 1º lugar e o acesso às meias-finais da Taça Nacional. A diferença de golos era grande (13) mas a nossa ambição, carácter, querer e determinação também! Foi nos Açores que aterrámos com a ambição de anular essa desvantagem e foi com enorme carácter e determinação que abordámos o jogo. Sabíamos em consciência que teríamos que ganhar por uma vantagem superior a 13 golos e estar atentos ao desenrolar do outro jogo, no continente, onde estava o nosso adversário directo. Ao intervalo 1-7 era o resultado e nos postes da baliza adversária ja tinham batido outras tantas bolas (7). 7 bolas na baliza, 7 bolas no poste e no balneário, ao intervalo, nada mais disse a não ser que ainda acreditava mais que no início e que, no mínimo, teríamos que fazer mais 10 golos. E fizemos mesmo! Nos segundos 20 minutos fizemos mais 10 golos e sofremos outro e quando a 3 minutos do fim do nosso jogo, após terminar o jogo no continente, o nosso resultado era de 2-17, sabíamos que com o resultado do nosso adversário (vitória por 3-0) a diferença de golos era agora de apenas um, o que equivale a dizer que um golo bastaria para festejar! Desculpem não conseguir descrever aqueles minutos pois só quem viu, sente e sentiu, vive e viveu poderá acreditar no que aconteceu. Não faltarei à verdade nem a aumentarei se disser que, durante todo o jogo, a cada 30 segundos criámos e “inventámos” uma situação de finalização e das 17 que foram concretizadas, outras poderiam ter sido!

Após o enorme esforço, coragem, empenho, carácter e determinação ficámos a um golo (!) de festejar a passagem às meias-finais e os momentos que se seguiram não se contam nem escrevem ou descrevem, sentem-se e vivem-se por aqueles (poucos) que tal como nós, se alegram com as vitórias e se entristecem com as derrotas!

A crueldade desportiva tem nos resultados desportivos alcançados através de golos marcados e sofridos esta dura realidade de uns festejarem por um golo, e outros chorarem por um golo...

Descolámos dos Açores, chegámos a Lisboa e algumas horas depois ao Fundão e se estes jogos e estes resultados desportivos não nos matam, que nos façam mais fortes e que sejamos capazes de juntar ao sofrimento individual e próprio de cada um, aprendizagem, conhecimento e a capacidade individual e colectiva intrínseca de encontrar razões para o insucesso, lidando, gerindo e sabendo viver com a ansiedade, a frustração contida no insucesso e a ilusão/ambição não alcançada, melhorando, crescendo e evoluindo, um dia de cada vez...


(Este artigo foi escrito e publicado no Jornal "Tribuna Desportiva" na edição de 13 de Maio de 2008)

Sem comentários: