terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A (enorme) importância de comunicar (bem)

Dando continuidade ao assunto abordado a passada semana neste mesmo espaço, insisto esta semana novamente na (enorme) importância de comunicar (bem) e tentarei tornar esta minha preocupação mais perceptível a quem lê utilizando exemplos práticos. Na passada semana escrevi, às páginas tantas, o seguinte: “não é resultado de nenhum estudo científico, mas certamente concordam comigo que no topo desta pirâmide está a relação Televisão/Futebol”. Curiosamente, e nada premeditado, esta semana, no jornal desportivo “Record”, na sua edição de Quinta-feira 29 de Janeiro, vinha o seguinte resultado referente a um estudo científico: “O futebol continua a ser rei e a reflectir o seu mediatismo nos noticiários dos jornais portugueses em 2008. As palavras Futebol, Benfica e FC Porto foram as que apareceram mais vezes em notícias publicadas na imprensa nacional no ano passado, segundo uma análise a que a Agência Lusa teve acesso. No estudo (entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2008) foi seleccionado um grupo de palavras-chave relevantes nos acontecimentos do último ano e, pesquisado em meios de âmbito geral/nacional, económico, desportivo e de entretenimento, concluiu-se que o Futebol e os principais clubes lideram os conteúdos nacionais”.

Com base nisto, gostaria de dar alguns exemplos do nosso Futebol. Naturalmente, os mais visados são os 3 grandes – FC Porto, SL Benfica e Sporting CP – e os seus intervenientes. Em condições normais, Jesualdo Ferreira, Paulo Bento e Quique Flores passam, por semana, 3 vezes em conversa com jornalistas (antevisão do jogo, flash-interviú e conferência de imprensa pós-jogo). Se houver competições europeias/Taça de Portugal/Taça da Liga, o número passa para 6. Não me parece um número pequeno, sobretudo devido à dimensão/proporção que 10 minutos perante os jornalistas vão ter nos dias seguintes. Tenho por hábito, sempre que me é possível, ouvir atentamente as conferências de imprensa de Treinadores e Atletas, e quando não posso ver e ouvir, procuro ler. Naturalmente a maior quantidade de “comunicação”vem dos 3 grandes, também porque são eles os mais solicitados e sujeitos a infindáveis questões. Quique Flores é dos 3, o mais “politica e desportivamente correcto”, com um discurso fluente onde se depreende segurança nas palavras e ideias que utiliza, detendo a capacidade de “usar” a imprensa pois sabe que algumas palavras e frases farão manchetes e outras, passarão entre linhas. É sucinto nas suas declarações, objectivo e coerente. Não se perde em justificações desnecessárias e assume os seus actos com responsabilidade e fimeza. Quique demonstra nas suas palavras confiança e segurança nos objectivos. Professor Jesualdo Ferreira. Orador nato. Comunica em função dos momentos, e quase sempre bem. Nas antevisões alonga-se, utiliza frases longas e vocabulário específico mas quando quer manchetes sabe como fazê-lo. A inteligência confunde-se com alguma sobranceria, tal a elegância do seu discurso. Elegante nas palavras e inteligente nas ideias. Aponto-lhe, no passado recente, um erro muito grave de incoerência na sua forma de estar: após o Porto – Trofense, no flash-interviú, comentou a arbitragem do Benfica-Braga de forma totalmente despropositada, pois estava ali para comentar o seu jogo. Na conferência de imprensa tentou emendar o erro e disse que apesar de tudo, o Porto tinha empatado por culpa própria. Não lhe assenta bem. E também lhe assentou mal quando o passado fim-de-semana, após o Braga-Porto, no “mesmo” flash-interviú, não respondeu ao jornalista sobre lances duvidosos do “seu” jogo. Pouco depois, na conferência de imprensa, disse «Não sou avaliador, não dou classificações nem sou da comissão de arbitragem. De onde estava, não dava para ver bem. Agora, vou para casa ver os lances, perguntem-me na próxima conferência de imprensa! A Jesualdo, estes dois momentos tão próximos ficam-lhe muito mal, mesmo que passados uns dias, afirme admitir “algumas irregularidades”. Por fim, deixei Paulo Bento. Sou, actualmente, incapaz de ouvir Paulo Bento. Ao contrário, gosto de ler o que diz Paulo Bento. As constantes paragens do seu discurso, as permanentes repetições de palavras e as constantes e repetitivas pausas longas com o seu “aaaaaannnnnnn” fazem do discurso de Paulo Bento um suplício para quem o ouve, tornado-se pouco natural, fluente e espontâneo e demasiado mecanizado – “uma vitória justa, um resultado (in)justo” – quantas vezes já ouviram isto da boca de Paulo Bento? Muitas! Caricato é perceber que Paulo Bento tem consciência desse mediatismo, mesmo não revelando melhorias no seu discurso, senão vejamos uma declaração que ele teve a 2 de Janeiro de 2009, onde afirmou e passo a citar: Aquilo que dizemos numa conferência de imprensa muitas vezes é analisado por quem de direito e muitas vezes é analisado por quem não o deve fazer. Os treinadores hoje em dia são criticados e observados por inúmeras pessoas que não têm a mínima noção do que é o futebol e a organização de uma equipa. Um dos meios que serve para que isso aconteça é a Internet. Nós estamos expostos a isso”.

Então, pergunto eu: não deveria ser motivo de preparação aquilo que se diz e a forma como se diz? A resposta parece-me óbvia. Junto a estes detalhes um menos importante: este tipo de declarações e forma de comunicar com adeptos, sócios e simpatizantes é global e o acesso a elas é cada vez mais vasto. Assim, a preparação destes intervenientes deve ser constante e rigorosa, tendo sempre presente a ideia que falam para um vastíssimo auditório.


(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 3 de Fevereiro de 2009)