terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Formação ou ser campeão?

No meio futebolístico é comum ouvirmos frases do tipo: “queremos formar mais que um atleta, um cidadão” ou ainda: “futebol é uma escola para a vida”. Contudo, sabemos que não é linear tornar essas frases realidade e fica a dúvida: Será que isso realmente acontece na prática ou não passa de discurso?

Nos dias que correm, a busca incessante por bens materiais e pelo lucro regem a essência da humanidade capitalista (seja de carácter deportivo ou social). Dada esta presente e premente realidade, será que é possível dar uma verdadeira educação/formação aos nossos jovens atletas?

Sob o meu ponto de vista, depende de nós educadores/técnicos desportivos, na escola e/ou no clube, concretizarmos a formação desse jovem cidadão-atleta que tanto ouvimos falar. O principal problema que se constata reside no facto dos treinadores (de clube) deixarem de se preocupar com a formação integral desses jovens em detrimento dos seus próprios interesses, para conseguirem uma ascensão meteórica com as respectivas vantagens que isso lhes possa trazer. Isto na prática traduz-se em títulos, maior preocupação pelo resultado final e menos preocupação/atenção à vertante humana, social e de formação íntegra dos jovens atletas.

Se essa lógica (de vencer primeiro e formar depois) prevalecer, vamos continuar a ver futebol de “chutão”, sem organização nenhuma, sem conhecimento do jogo e dos seus princípios, sem saberem que “o jogo é futebol” e não tem nada semelhante com “jogar à bola”. Neste futebol, jovens fisicamente muito fortes são os grandes “trunfos” dos treinadores. Esta realidade é tão triste e verídica que muitas vezes durante um jogo, há equipas (de futebol de 7 – escolas/infantis – ou de 11 – iniciados) que não conseguem cinco passes consecutivos sem perder a posse da bola, mas no entanto, com o tradicional “chutão”, muitas vezes vencem.

Formar sem esquecer o lado competitivo estará sempre inerente ao desenrolar do trabalho, mas em idades mais baixas é fundamental perceber que mais importante que vencer é dotar os jovens de vivências e hábitos motores para que conheçam o jogo, o interpretem cada vez melhor e o identifiquem com naturalidade. Assim, aprender a jogar em várias posições, conhecer as suas funções, vivenciar variações tácticas/estruturais, ter uma boa relação com a bola e cultivar/fomentar espírito colectivo, de humilde e respeito, terá, tanto ou mais valor que uma vitória. Contudo, não concordo que se ensine a perder. A derrota é um dos 3 resultados possíveis e nas idades mais baixas deve desdramatizar-se esse resultado, bem como racionalizar as vitórias. Aceito sim, que se ensine que vencer/empatar/perder faz parte do jogo.

A própria denominação diz: futebol de formação. Assim, é nossa responsabilidade formar os jovens em atletas e formar os jovens no contexto actual da sociedadedar. A estes deve ser permitido errar sem medo de represálias pois são jovens em formação e os erros são comuns em qualquer processo de aprendizagem.

Nos jovens atletas em formação, a vitória deve ser “um meio” e não “um fim”. Devemos ser competitivos e exigentes mas saber que são ainda muito novos. Empenho e dedicação é fácil pedir e as características volitivas devem ser permanentes. Dessa forma, teremos um jovem atleta-cidadão mais e melhor preparado para a vida, mesmo que não se torne um futebolista profissional de sucesso. Se isso ocorrer, o papel da formação está cumprido. E bem cumprido.


REFERÊNCIAS:

  1. No Campeonato Nacional de Futsal/FutSagres, 17ª Jornada, 8ª vitória, 8º jogo consecutivo sem perder, 29 pontos conquistados com mérito, sofrimento, dedicação, organização e qualidade. No Sábado, em Tires, o respeito pelo adversário e a nossa responsabilidade/competência estiveram nos níveis desejáveis e conquistámos mais 3 pontos, a caminho do objectivo – play-off. Ainda não está! Está quase! “Só” falta o quase e 9 jogos.
  2. No clássico do Dragão, uma decisão do Árbitro influenciou o resultado do jogo, a actual classificação e a classificação final destas duas equipas em caso de igualdade pontual. Apesar de ser muito, o erro faz parte do jogo e o que fica do jogo foi um FC Porto com demasiada pressa em chegar a situações de finalização e sem o conseguir, e um SL Benfica tranquilo, personalizado e muito bem organizado defensivamente. Em Lisboa, o SC Braga foi uma equipa grande e o Sporting CP foi incapaz para superar a organização adversária. Dois jogos de qualidade superior, com formas de jogar bem definidas e comportamentos individuais e colectivos de top.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 10 de Fevereiro de 2009)

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