quarta-feira, 18 de março de 2009

Ainda?

Aqui neste espaço já falei anteriormente de várias formas de treinar/trabalhar, independentemente de concepções, convicções, ideias e até algumas invenções. Como sabem, a Selecção Nacional de Futsal está reunida para participar na fase de apuramento para o próximo europeu de Futsal – Hungria 2010, e por isso também, o Campeonato da 1ª Divisão encontra-se parado. Aproveitou a nossa Selecção para realizar dois jogos particulares com a vice-campeã do Mundo – Espanha, no país vizinho. Realizados na Sexta-feira e no Sábado, os resultados foram 1-0 e 4-1, desfavoráveis a Portugal. Assim como Portugal, também a Espanha está envolvida na fase de apuramento, ou seja, ambas as Selecções/Equipas prepararam os jogos de apuramento com estes dois particulares. Até aqui, nada de estranho. O que para mim é estranho e de difícil aceitação e compreensão é ler as declarações do Seleccionador Espanhol de Futsal após os jogos realizados frente a Portugal. Após o primeiro jogo (1-0), José Venancio López disse, e passo a citar: “a equipa esteve muito bem porque chegámos a este jogo com bastante carga de trabalho físico e não tivemos a velocidade necessária. Eles estiveram mais rápidos mas contudo, soubemos contrariar essa superioridade com base no esforço e no uso de recursos tácticos.”. Após este jogo e antevendo o jogo do dia seguinte, perguntaram ao Seleccionador Espanhol se não o preocupava o cansaço acumulado com os treinos e estes jogos, com vista aos jogos do apuramento, no próximo fim de semana, ao que José Venancio López respondeu o seguinte: “não, não me preocupa. É normal que a equipa não tenha tanta frescura nesta altura, e isso está dentro do previsto. Na próxima semana o trabalho será fundamentalmente táctico e os jogadores estarão melhor fisicamente.”. Já no Sábado, e após o jogo (4-1), José Venancio López disse, e passo a citar: “destaco a inteligência com que jogámos, porque a excessiva carga de trabalho não nos deixou realizar o jogo que tínhamos previsto.”.

Bem sei que não é correcto da minha parte avaliar ou criticar esta forma de trabalhar, sendo este senhor e aquela selecção Vice-Campeã do Mundo de Futsal e uma referência para a modalidade, mas não posso deixar de estranhar esta concepção (ainda) utilizada pela selecção espanhola. Sei também que o Futsal Espanhol – assim como o Brasileiro – tem na vertente física uma grande preponderância e uma particularidade que os tem aompanhado ao longo dos anos, mas esta ideia/concepção ao nível do treino neste nível de rendimento (de top) deixa-me com a firme sensação e convicção que nós portugueses (treinadores portugueses) estamos cada vez melhor preparados para operacionalizar e concretizar no processo de treino as preocupações que o jogo nos coloca, deixando de lado a excessiva preocupação com a vertente física descontextualizada, não dissociando o físico do táctico (do estratégico, do mental, entre outros). O Futsal é um jogo. Um jogo desportivo colectivo e por isso carece de comportamentos colectivos ordenados e organizados em função de uma ideia de jogar, por isso é um jogo essencialmente táctico. Não deixo assim de ler com alguma surpresa e até admiração que ainda se utilizem métodos de trabalho analíticos e descontextualizados, sobretudo quando (no trabalho de selecções) apenas se tem os atletas à disposição uma/duas semanas.

Continuarei admirador e atento à forma de jogar da Espanha – e do Brasil, bem como da forma de gerir e liderar dos seus respectivos treinadores, mas as formas de treinar assentes em concepções (independentemente de melhores ou piores) com as quais não me identifico na sua totalidade, não vão alterar as minhas ideias, convicções e concepções.

E porque tudo o que seja favorável ao crescimento qualititativo da minha concepção – da minha forma de jogar – é passível de interesse, não renuncio a nada e continuarei a procurar ideias/conhecimento/concepções/experiências de todo o lado. Boas ou más, melhores ou piores, isso depois decido eu.


REFERÊNCIAS:

  1. Através do site da Federação Portuguesa de Futebol, ficámos a saber quais as preocupações do nosso Seleccionador durante a semana de treinos que antecederam estes jogos com Espanha e uma coisa vos transmito – nada tem a ver com processos analíticos, descontextualizados ou que ponham em causa o dissociar de todos os factores intervenientes no jogo. E porque Portugal perdeu, acham que se mudam convicções ou concepções?
  2. No Futebol, gostaria de partilhar 3 ideias soltas: a derrota do Sporting CP na Liga dos Campeões será (infelizmente) para sempre eternizada; a segurança, consistência, organização (desportiva e administrativa) e qualidade do FC Porto (na Liga dos Campeões e sobretudo na Liga Sagres) é superior aos restantes adversários; Mourinho tem a vida (de Treinador) em Itália cada vez mais difícil – os italianos são demasiado genuínos e têm dificuldade em se habituar a quem vem de fora (e se esse alguém for Mourinho, mais difícil se torna).

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 17 de Março de 2009)

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