terça-feira, 6 de julho de 2010

África “deles” III

A esperança terminou, frente aos nossos vizinhos, da pior maneira! Cada vez mais no futebol, a distância entre o perder e o ganhar está tão próxima que até se confunde. Portugal foi com a Espanha uma equipa submissa, demasiado dócil na agressividade defensiva com e sem bola e inexplicavelmente pouco ambiciosa. A estratégia de Queiroz deu à Espanha o que ela melhor sabe fazer: ter a bola. Ora, se por princípio, conhecemos as forças dos outros e as nossas fraquezas, assim como as nossas forças e as fraquezas dos outros, penso que dar à Espanha aquele objecto tão valioso confiando na organização/aglomeração defensiva para 90 ou mais minutos, pareceu-me enfadonho e despropositado. Portugal expôs-se à Espanha e o golo foi uma questão de tempo. Quem ataca organizado e equilibrado como a Espanha o fez, fica confortável a parar e defender transições, ainda para mais, com um Ronaldo “absurdamente” individualista, um Simão “desaparecido” e um Hugo Almeida que “sozinho na frente”, deu conta do recado até Queiroz ter percepcionado estar cansado. Portugal foi eliminado, mas podia tê-lo sido de forma mais coerente e ambiciosa, tal como o discurso. O objectivo era, diziam eles, chegar longe. Isso é o quê? Ninguém pergunta a ninguém o que é chegar longe? É que depois de sermos eliminados ouvimos o presidente da FPF dizer que esperava mais e só foi feito o mínimo. Pudera. Somos a terceira selecção no ranking FIFA e por isso podíamos e devíamos ter feito mais, mais que não fosse perder tentando ganhar, subindo o bloco colectivo, demonstrando identidade colectiva com e sem bola. Ainda relativo à nossa classificação do ranking, quando convém dizemos que não quer dizer nada, assim que parece conveniente vimos logo dizer que é importante e uma demonstração da clara e franca evolução do futebol português – este discurso típico e já conhecido antes de ser pronunciado demonstra demasiada flexibilidade/indefinição nas ideias colectivas. E nem o discurso virado aos apitos justifica algo. O nosso fora de jogo teve 22 centímetros? O golo da Inglaterra teve mais de 1 metro e o sofrido pelo México quase 2, e não venham dizer que a Inglaterra não tem “poder” no futebol mundial, assim como não nos tornemos (como costume) nos eternos queixinhas pós-derrota. Queiroz fez bem em olhar para dentro e dizer que não se investe no futebol de formação em Portugal. Perguntou inclusive se conheciam os investimentos noutros países e o “desinvestimento” no nosso. Discurso inteligente para apaziguar a azia, mesmo toda a gente sabendo, tal como Queiroz, que fomos 4ª classificados no último mundial e boas prestações nos últimos europeus (2º em 2004 e quartos-final em 2006). Eu chamo-lhe discurso de “conveniência”, com o qual não me identifico nem concordo. Este campeonato do mundo e a sua preparação revelou-nos outro indício: o perfil de liderança de Queiroz. Ser adjunto do Manchester ou Seleccionador Nacional não é a mesma coisa e embora a pessoa seja a mesma, a liderança exige modificações comportamentais para alcançar o sucesso. Aliás, parece-me que Queiroz em Madrid foi mais eficaz ao nível da liderança que desde o dia em que assumiu o cargo na FPF. Explicação: parece-me a mim demasiada aproximação a alguns, afastamento a outros e depois, a inexistência de um discurso comum para o exterior. Podemos ainda juntar a tudo isso declarações de jogadores a colocar nitidamente em causa as suas opções (só quem não quer perceber é que “aceita” de forma natural os comentários de Deco – pós jogo com a Costa do Marfim e Espanha, e Ronaldo – “o porquê da eliminação: perguntem ao Carlos!”). Em privado, para melhorar e potenciar o rendimento colectivo, admito diálogo e divergência de opiniões e estratégias para se atingir o consenso colectivo, mas para o exterior, o discurso não pode transparecer tamanha diversidade de opiniões desportivas. E para esclarecer, não confundam opiniões com decisões.

REFERÊNCIAS:

1. A 22 de Junho referi-me neste espaço ao carácter de um grande “capitão” de seu nome Ronaldo. Agora, a 6 de Julho, retrato-me e tenho que dizer que faltou carácter ao capitão dos portugueses. O futebol tem disto e por enquanto, esperamos por cenas dos próximos capítulos.

2. A AD Estação encerrou a sua época desportiva juntando numa festa “familiar” mais de 300 pessoas. A instituição merece e por isso, todos os que para ela contribuímos, só temos que querer mais… muito mais! Boas férias!

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