segunda-feira, 31 de agosto de 2009

“gerir” para “gerar”

A gestão do sucesso e insucesso no fenómeno desportivo é cada vez mais difícil de congregar às exigências desportivas as exigências sociais. Parece-me importante salientar que a gestão e os comportamentos de um Treinador enquanto líder de uma equipa vão muito mais além que a simples “gestão de balneário/plantel”. Um dos principais comportamentos do treinador com influência na coesão e rendimento colectivo centra-se hoje em dia nos aspectos da liderança. Um bom líder será um bom gestor de recursos humanos e esse terá que ser, além de Treinador, alguém que saiba e conheça as principais características sociais do atleta, sem nunca intervir relativamente a elas (a menos que considere pertinente a sua intervenção). Importa conhecer e reconhecer comportamentos e atitudes colectivas e individuais durante a sessão de treino, durante as viagens e as refeições, na preparação do jogo, na reunião pré-competitiva e nas análises aos jogos, entre outros. O Treinador terá que ser alguém que conheça o “seu” balneário ao detalhe, para que o controle e a gestão da equipa esteja sempre assegurada, não permitindo comportamentos inadequados e acções fora do contexto ou com carácter desrespeitador e irresponsável para com o clube/instituição e todos os elementos que integram o plantel. Assim sendo, uma questão pode ressaltar ao olhar comum: será que existem Treinadores ideais? Muito provavelmente não! Haverá sim treinadores eficazes. E certamente que o Treinador ideal, a existir, é certamente o mais eficaz, o que vence mais vezes e aquele que mais vezes alcança objectivos desportivos previamente estipulados. Nos dias que correm, com toda a envolvência que o fenómeno desportivo tem na sociedade (nomeadamente o Futebol), com o seu impacto e mediatismo a serem cada vez maiores, o Treinador tem nas suas tarefas de acção específicas importantes decisões e responsabilidades que ultrapassam muitas vezes o foro estritamente desportivo e passam tamanhas vezes para a sociedade desportiva e social. O Treinador deve adequar e ajustar o seu relacionamento, comportamento e desempenho ao nível de competência em que está inserido. Ao Treinador pede-se que seja astuto, perspicaz e inteligente, que detenha um profundo conhecimento do jogo, do treino e dos processos inerentes e envolventes, que os controle, domine e sistematize, que tenha uma intervenção formativa, informativa e instrutiva perante os atletas, que demonstre ser um bom líder sendo capaz de construir e gerir um ambiente respeitador, transmitindo confiança e procurando estabilizar em patamares óptimos de rendimento a ansiedade e a motivação. Essencial parece-me ser hoje em dia a capacidade do Treinador em gerir os recursos humanos que tem à sua disposição, intervindo activamente nas opções e decisões tomadas, de modo a que se convertam objectivo comum e que possam ir de encontro aos interesses do clube. E porque falar em gestão pressupõe muito mais que gerir recursos humanos, é tarefa do Treinador saber gerir técnica e desportivamente o sucesso e o insucesso no decorrer da época, sendo capaz de resolver os problemas subordinados aos objectivos, ignorando e atenuando conflitos, estabelecendo compromissos com os atletas que lhe permita manter a coesão do grupo em níveis óptimos de rendimento. E porque o trabalho do treinador está subordinado e inerente ao clube/instituição, não podemos esquecer nem desvalorizar os seus constituintes – sócios, simpatizantes, direcção, seccionistas, departamento médico, motoristas, roupeiros, funcionários do campo, jardineiros e demais colaboradores – bem como o contexto social no qual o clube se encontra inserido. A relação do Treinador deve ser de profundo respeito e máxima compreensão por cada indivíduo e a sua área de intervenção/competência. E se muitas vezes a transmissão de informação entre Treinador e sócio/simpatizante é através da comunicação social, este é também um aspecto a ter em conta pelo Treinador. Nos dias que correm, os órgãos de comunicação social não transmitem apenas informação. Hoje em dia os órgãos de comunicação social fazem já parte integrante do fenómeno desportivo e tem por isso que ser encarado como factor determinante, importante e por vezes até decisivo, sendo passível de gestão pelo Treinador. Para último mas não menos importante deixo a relação com os Árbitros. Porque fazem parte integrante do fenómeno desportivo também eles não merecem ser negligenciados. Deve assim o Treinador, de forma respeitosa, cordial e digna saber gerir a sua relação com quem dirige o jogo, quer durante a semana na abordagem ao jogo, quer durante o jogo e sobretudo após o mesmo. O árbitro, sem interessar de quem se trata, é sobretudo alguém que não é infalível, dono da razão e imune ao erro nas suas decisões. Importa sobretudo saber compreender os seus erros da mesma forma que a nossa equipa errou ou o Treinador, no desempenho das suas funções, não foi suficientemente bom. Ser Treinador obriga a bem gerir para gerar bons comportamentos e bons resultados desportivos.

REFERÊNCIAS:

  1. O treinador deve ser possuidor de capacidades técnicas, desportivas, sociais, humanas e conceptuais que lhe possibilitem gerir e liderar de forma eficaz e eficiente a sua equipa para gerar sucesso nos objectivos propostos e definidos.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 25 de Agosto de 2009)

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