Nos tempos recentes do universo desportivo e mais especificamente naquele que se refere à análise do jogo quer em jornais quer nas televisões, temos ouvido e lido a certas e determinadas alturas a utilização do termo “entre linhas”. Tenho a convicção que mais importante que ouvir ou ler importa entender o contexto de tal afirmação para que se perceba que o “jogar entre linhas” é hoje factor determinante para um jogar de maior qualidade e para alcançar níveis elevados de rendimento, retirando desse comportamento táctico-estratégico o máximo rendimento colectivo. Vamos por partes. O comportamento individual ou colectivo com o intuito de “jogar entre linhas” pressupõe logo à partida a existência de “linhas” (geometricamente definidas pela concepção de jogo do treinador)“linhas” não são mais que a adopção de comportamentos colectivos ofensivos e/ou defensivos para que a equipa jogue perto, organizada, compacta e “geometricamente alinhada”, permitindo e possibilitando aos atletas constantes referências espaciais (bola, companheiros, adversários e espaços), de forma a defender/atacar melhor, nunca perdendo o equilíbrio na organização colectiva (ofensiva e defensiva), estando melhor preparados para os momentos de transição. Quando o treinador, segundo a sua concepção de jogo, define o número de linhas a adoptar na sua organização de jogo é com o objectivo de definir referências posicionais para que as partes sejam um todo e esse todo se movimente de forma global, em função da bola, tendo por base essas “linhas geométricas” imaginárias. Por conseguinte, é responsabilidade do treinador proporcionar hábitos comportamentais que sejam rotinas, através do treino, para que a equipa se posicione “geometricamente” organizada e equilibrada em função da posição da bola, do espaço e dos adversários e companheiros, distinguindo o momento ofensivo (campo grande) do momento defensivo (campo pequeno), nunca alterando o número de linhas definido para cada momento. Estas “linhas” a que me refiro são essencialmente adoptadas no momento de organização defensiva, com o intuito de manter a equipa equilibrada e organizada, com ocupação racional do espaço mais valioso em função da bola, com constantes coberturas à bola e oscilando entre as linhas definidas em função da posição da bola. Assim, defender com “linhas geométricas” previamente definidas pressupõe uma preocupação zonal colectiva, onde a posição da bola e os espaços envolventes a esta são o mais importante. A título de exemplo, e para uma estrutura (no futebol) com 2 avançados, uma equipa pode adoptar no seu momento de organização defensiva uma estrutura que contemple 3 linhas defensivas (4:4:2), 4 linhas (4:1:3:2), 5 linhas com meio-campo em losango (4:1:2:1:2) ou até 6 linhas, com um avançado mais recuado no meio-campo em losango (4:1:2:1:1:1). Quanto maior o número de linhas, maior será o objectivo em preencher os espaços em função da bola, as coberturas, a organização e o equilíbrio colectivo (zonalmente), e tenho a convicção que quando recuperada a posse de bola, será muito maior o número de soluções ao nível do passe em apoio, acrescentando ainda uma maior eficácia no momentos de transição fruto da ocupação racional dos espaços. Porque sabemos que as estruturas colectivas e estas “linhas geométricas” são dinâmicas móveis e não rígidas ou fixas, definir linhas orientadoras entre sectores e intersectores permite que cada atleta saiba o que fazer, quando fazer e o porquê de o fazer, pensando no todo e sempre em função do colectivo.
Ofensivamente, a equipa tem que estar preparada (treinada e rotinada) para ultrapassar, desorganizar e desequilibrar estruturas com linhas defensivas bem definidas, treinando com a intenção e objectivo de aproveitar ofensivamente os espaços entre linhas defensivas adversárias, colocando nessas zonas atletas de modo a criar linhas de passe em apoio. Não é nada fácil… mas é muito mais fácil!
REFERÊNCIAS:
- Abordar estes princípios defensivos inerentes ao jogar de uma equipa pressupõe falar de organização, equilíbrio posicional e sobretudo grandes equipas, com grandes atletas e grandes treinadores.
- O Futsal e o Futebol têm, neste capítulo e em tantos outros, semelhanças imprescindíveis para uma organização de jogo de rendimento superior.
(Este artigo foi publicado no jornal Trinuna Desportiva, na sua edição de 29 de Setembro de 2009.)