sexta-feira, 18 de setembro de 2009

a mudança de “Jesus” nas “Flores”

Ano após ano, as equipas de futebol, sejam elas profissionais ou amadoras, tendem a mudar atletas, treinadores e até em alguns casos elementos da direcção. Quando se tomam este tipo de atitudes – de mudança – é com esse mesmo fim – mudar algo. Mesmo ganhando, para manter a regularidade e a consistência nos resultados, há que melhorar porque os outros vão ter a preocupação em estar melhores. Contudo, modificar quando se ganha é apenas em pontos essenciais, porque o todo, esse deve manter-se. Mas se há mudanças quando se ganha imagine-se as mudanças que existem quando não se ganha. Dependendo da situação, mesmo não ganhando não é sinónimo de necessidade para muitas mudanças mas no contexto actual do futebol português, isso não é plausível. Imaginemos o cenário de manter no Benfica, tudo o que estava da época passada e mudar “apenas” alguns jogadores. Ou então, imaginemos o Porto a mudar muita coisa, desde treinador a jogadores. Dizem os responsáveis de alguns clubes que muitos negócios são “de oportunidade” e que mudar não significa “necessitar”. A nós, apenas espectadores atentos desses fenómenos de milhões, parece-nos ser difícil de aceitar que, a título de exemplo, o Porto precisasse mudar muito e o Benfica não precisasse mudar nada. O próprio Paulo Bento chegou a dizer que gostaria de ter mais mas o contexto económico do clube não lhe permite e que muito poucas pessoas entendem isso. Nestas situações, compete aos treinadores “fazer omeletas”. Com ovos ou sem eles, se não houver “omeletas” há, no comum dos casos, “despedimentas”. É neste ponto que começa a necessidade de mudança. E com a época a andar, só um cargo se pode mudar – o “mister”. Entre Dezembro e Janeiro, os jogadores até podem mudar, mas é na pessoa do treinador que o fenómeno gira. Vejamos casos reais e explícitos: na Naval, o presidente disse que tinha que ser feito alguma coisa (mudar) porque a Naval não ganha à muito. Dá vontade de perguntar, ironicamente, será que é bom ganhar muitos jogos e habituar presidentes a ganhar para depois, quando à 3ª jornada se tem ganho pouco, vou ser despedido?. No “nosso” SP Covilhã, quase a mesma história da época passada: na apresentação o melhor do mundo, após duas derrotas o pior do mundo – despedido. Da minha parte, só quero ver o Covilhã ganhar e estabilizar na Liga Vitalis, mas em termos de imagem, não me parece muito interessante esta instabilidade. No Setúbal, o sr. Azenha tem as horas contadas. Com 12 golos sofridos em 2 jogos, nem Mourinho ou fosse quem fosse resistiria aos adeptos, sócios e claro, à mudança que a direcção terá que proceder. E no SL Benfica? Parece-me lógica a mudança de treinador. Parece-me também normal que ambos, primeiro o sr. Flores e agora o sr. Jesus, soubessem o caminho a seguir para alcançar os objectivos (tal qual se vê nas fotos). Contudo, e apesar de estarem apenas decorridas 4 jornadas, a diferença entre ambos, ou melhor, a diferença de rendimento da equipa sob o comando de ambos é uma comparação incomparável. As diferenças são muitas, mas as principais, desde os comportamentos colectivos mais agressivos, dinâmicos e móveis deste Benfica nada têm de correlação com a passividade quase estática da época passada. E se entrarmos no capítulo individual, onde estavam este Di Maria quase inutilizado e este Aimar que teimosamente era avançado? O Benfica mudou muitos jogadores, pode até dizer-se que este plantel é melhor que o da passada temporada, mas tendo em conta os comportamentos colectivos apresentados até agora, é caso para afirmar que “o dedo de Jesus nas Flores de Quique” é muito grande. Os jogadores, sendo os mesmos, têm a esta altura um rendimento muito mais elevado que toda a época passada. Só por curiosidade, alguém me consegue dizer a última época em que o Benfica era tão forte e perigoso em lances de bola parada? Provavelmente quando no banco também estava um senhor de cabelo branco, italiano, de seu nome Trapattoni. A diferença entre o italiano e o português deste ano (entre outras) é a capacidade dinâmica ofensiva, porque a organização defensiva e os seus princípios estão lá, com ideias diferentes, mas eficientes. Com Trapp poucos atacavam e muitos defendiam. Com Jesus, muitos atacam e todos defendem. Para mim, “a mudança de Jesus nas Flores” já deu e vai continuar a dar que falar. É importante para quem desconhece ou desvaloriza, perceber a influência que um treinador tem no rendimento individual e colectivo de uma equipa de top. Ou muito me engano, ou voltarei a este assunto no decorrer desta época.

REFERÊNCIAS:

  1. Vi no Sporting-Paços uma equipa pouco móvel, dinâmica e com dificuldade em chegar ao golo da vitória, que apesar de tudo, é merecido. Tenho dúvidas se até ao final da época, não haverá mudanças. Parece tudo muito rígido e pouco natural, provavelmente resultante de um desgaste de muito tempo sem ganhar competições. Ganhar alimenta tudo, não ganhar alimenta a descrença, a desconfiança e a dúvida.
(Este artigo foi publicado no jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 14 de Setembro de 2009)

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