quarta-feira, 9 de setembro de 2009

“sobredotados” – “subdotados”

Na regular e orientada prática desportiva, a competição é o cenário em que os praticantes expressam as suas totais (e reais) capacidades. Porém, o significado dos resultados alcançados pelos jovens praticantes, fruto das implicações que resultam sobre o sucesso da actividade, exige a tomada de consciência de um conjunto de aspectos essenciais para todos os que intervêm na prática desportiva juvenil. Apetece perguntar: que é feito daquele campeão de iniciados tão elogiado por todos, que praticamente deixámos de ver competir na categoria de juniores e que hoje, já adulto, apenas encontramos nas bancadas a assistir às competições? Porque será que aquela grande promessa dos juvenis, que se destacava nitidamente dos seus companheiros e adversários, não passou de um atleta sénior mediano, nunca tendo confirmado o futuro risonho que tantos lhe anteviam? Onde está a “estrela”, o “puto maravilha” dos Infantis, que sozinho chegava para os adversários?

Estamos perante um cenário perfeitamente natural que se justifica atendendo à existência quer de um conjunto diversificado de factores de engano (ritmos acelerados de desenvolvimento, anos de experiência na modalidade, alteração dos factores de sucesso, tipo de competição), quer de uma série de circunstâncias que podem suceder interrompendo esse desenvolvimento (erros de preparação, perturbações da componente psicológica, inflexões na tendência de maturação, causas naturais de abandono), que podem levar treinadores, dirigentes, pais e adeptos em geral a traçar perspectivas (erradas e pouco fidedignas) que depois nunca se confirmam. É preciso prudência na qualificação de "grande promessa" feita a um qualquer jovem praticante, sobretudo quando esse título resulta de uma mera comparação com os demais em termos relativos, de ele ser o melhor daqueles que pertencem ao mesmo escalão etário. As consequências negativas desta atitude reflectem-se nos próprios (quantas frustrações criadas perante previsões nunca confirmadas), na modalidade (quantas apostas e investimentos perdidos) como também nos que, por essas opções, foram afastados ou que se afastaram (quantos jovens cheios de aptidões não foram menosprezados apenas pelo facto de, momentaneamente, revelarem capacidades inferiores aos seus pares). É importante uma tomada de posição que consiga relativizar a importância que se atribui aos resultados desportivos alcançados em competição pelos mais jovens praticantes (sejam eles vitórias ou derrotas), desdramatizando as reacções que resultam da apreciação que vier a ser feita aos mesmos resultados (sejam eles vitórias ou derrotas) e valorizar a forma como os resultados são alcançados, o progresso conseguido e as potencialidades reveladas pelos praticantes, atendendo às características de prazo que obrigatoriamente esta prática deve revestir. Haja consciência para que no treino de jovens se centre a atenção na avaliação do trajecto percorrido, nos sucessos pessoais alcançados por cada um face ao seu passado e o volume de potencial que ele aparenta possuir, em vez de nos limitarmos a uma quase exclusiva comparação com os demais. Não devemos, para o bem do jovem praticante, valorizar em excesso o resultado desportivo competitivo alcançado. Sobre a classificação de “jovem de elite”, de “top”, de “estrela” e de “notícia de jornal”, devemos ser capazes de relativizar em muitas situações, para evitar consequências nefastas que normalmente transformam esses “sobredotados” em “subdotados”.

REFERÊNCIAS:

  1. A nossa selecção até joga bem, bonito, cria situações de finalização e tem organização colectiva para dar e vender (em alguns momentos) mas não concretiza, sofre golos e por consequência, não vence. Em 2010, veremos o próximo Mundial de Futebol sem Portugal!? A cada jogo que passa, esta pergunta tem cada vez mais uma resposta positiva.

(Este artigo foi publicado no Jornal Tribuna Desportiva, na sua edição de 8 de Setembro)

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