O “Caso Queiroz” tinha há muito tempo os dias contados e a decisão, mais tarde ou mais cedo, quase todos a previam. Um treinador, um Homem, uma questão desportiva e desta vez, também uma questão política, pois a clínica faz parte. Quando se mete tudo dentro do mesmo saco e se tratam “cebolas” como se fossem “tomates” a confusão instala-se, todos falam e todos têm razão e claro, o normal sucede: o treinador fica “sozinho” e o processo arrasta-se até ao seu despedimento. Novidades? Só o caminho, pois o fim é já por demais conhecido.
Carlos Queiroz sucedeu a Scolari no cargo de seleccionador nacional, após a saída do técnico brasileiro para o Chelsea, anunciada em pleno campeonato da Europa de 2008. Queiroz prometeu conquistar tudo. A 11 de Junho de 2008 regressava ao local onde já tinha estado entre 1991 e 1993 e de onde saiu com a polémica frase: “é preciso varrer a merda toda da Federação!”.
Mais de 20 anos depois, Queiroz “abandonou” Alex Ferguson no Manchester United e Gilberto Madaíl propôs-lhe um contrato de quatro anos, a 1,6 milhões de euros/ano, bruto. No entanto, as polémicas não demoraram. Na primeira convocatória da qualificação para o Mundial 2010, quando deixou de fora 10 jogadores que estiveram no Europeu, a mesma foi anunciada no site da FPF e sem direito a perguntas, algo nada normal. Embora o primeiro jogo tivesse calado algumas vozes (4-0 a Malta), daí para a frente foram-se sucedendo as derrotas e os empates que obrigaram Portugal a disputar o play-off com a Bósnia. Já no Mundial, os casos foram excessivos para quem precisa de respirar tranquilidade, serenidade e lucidez. Primeiro com Nani, depois com Deco, depois as palavras de Cristiano Ronaldo e Hugo Almeida, a acrescentar os constantes comunicados dos jogadores a retratarem-se pelo que tinham dito, a juntar às exibições colectivas pouco ou nada convincentes e conseguidas e até a manifestação de alegria no empate com o Brasil a zero. Uma panóplia de peripécias “desajustadas” para uma estrutura altamente profissionalizada e que assim sendo, tem o dever de não actuar em conformidade com muitas destas situações. Para alimentar ainda mais a barriga dos críticos, a derrota por 1-0 e consequente eliminação do Mundial fez incendiar de vez o ambiente. Ronaldo afirmou sobre a derrota “perguntem ao Queiroz” e Hugo Almeida contradisse o técnico ao afirmar que não estava desgastado no momento em que foi substituído. Mundial terminado, regresso ao nosso canto, com algumas personalidades sedentas de “sangue”. A Selecção chegou a Lisboa no dia 1 de Julho e a Federação emitiu um comunicado, a 14 de Julho, onde dava conta que “os objectivos tinham sido cumpridos”. Água na fervura, apenas e só! A bomba ainda estava para vir. 10 dias depois, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto dava a conhecer o caso Queiroz. “São factos graves”, disse, sobre as palavras proferidas por Carlos Queiroz aos médicos da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), que a 16 de Maio se deslocaram à Covilhã para um controlo. Primeiro suspenso pelo Conselho de Disciplina da FPF, mas ilibado de perturbar o controlo, Carlos Queiroz foi pouco depois suspenso pelo ADoP por seis meses por ter perturbado um controlo antidoping. Ainda com um processo disciplinar a correr na FPF (pelas declarações proferidas sobre Amândio de Carvalho ser “a cabeça do polvo), o seleccionador foi dispensado a 9 de Setembro de 2010, 760 dias após a chegada. Há muito que era uma questão de tempo, que de novidade não teve nada, apenas muita encenação, na minha opinião, justificada pelo elevado preço a pagar pela indemnização do despedimento.
REFERÊNCIAS:
- Bem-vindo João Carlos de Sá Pinho às lides comunicativas através da imprensa escrita. Vou estar especialmente atento às entrelinhas, da vida (pessoal, social e profissional), do desporto e do discurso. Aquele abraço!